sábado, 30 de novembro de 2013

É inspirador ler Mia Couto, sempre

Lembro de ter lido, há alguns anos, que uma rica modelo e atriz americana disse que quando criança pensava que todos viviam em mansões. Que coisa!, pensei preconceituosamente, tinha que ser americana para viver tão fora da realidade. Hoje, feliz roda do tempo, leio que “Eu pensava que todo mundo quando ficava adulto virava automaticamente poeta”, fragmento de mais uma bela entrevista de meu querido escritor Mia Couto.

Que visão fragmentada do mundo temos quando crianças e como nossos cacos podem virar mosaicos na vida adulta, seja lá o que isso for. Continuamos com nossas visões limitadíssimas, ao que a mídia deixa e quer passar, ao que interessa ou não que pensemos que sabemos, mas essa discussão mais política e desanimadora não quero que venha atrapalhar meu momento poético de sábado.

É lindo sentir como os africanos vêem o silêncio,

“O silêncio permite que haja comunicação, não é uma ausência, não é uma pausa absoluta. Depois, tem essa outra dimensão que é social, do meu lugar. Os africanos olham o silêncio como uma coisa que não é incomodativa. Às vezes, o que eu vejo em outros lugares, quando as pessoas estão num grupo e se cria um silêncio, é que aquilo tem que se resolver, é um vazio. Ali não, o silêncio está cheio de vozes, não existe nunca. O silêncio não é aquilo que parece, não é uma ausência.



É inspirador ler Mia Couto, sempre. Vou refletir sobre o que ele pensa da busca da identidade. Veja abaixo e me diga se também te instiga.

O que se passa é o seguinte: essa busca da identidade é um grande assunto para todos nós. Não é uma coisa literária, não é um assunto filosófico. Temos sempre de explicar quem somos, e é uma miragem, é sempre uma coisa equivocada. Nunca somos uma coisa, não temos uma identidade, temos várias, e elas vão mudando com o tempo, vão mudando com a idade, vão mudando com a relação que a gente tem. Eu vejo que isso foi uma coisa que no início surgiu dramática em mim próprio. Tenho que saber quem sou, e eu era um cruzamento de tanta coisa, era um ser de fronteira, sou um filho de portugueses que nasceu em África e se converteu num africano. Vivo entre o mundo católico, o mundo dessas outras religiões que não têm nome, vivo entre o ocidente e o oriente, entre esse mundo de crenças e o cientista que também sou. Então, de repente, disse para mim: “O que é que eu sou?”. Parecia que eu tinha que saber, e é um drama não saber. Às vezes, o que disse a mim próprio e gostaria de dizer aos meus filhos e amigos é que não sofram, pois, ao contrário, quando souberem, aí sim vocês terão razão para sofrer. Porque essa área do não saber, essa ignorância, é extremamente fértil, portanto convivamos bem com isso.


A entrevista completa você lê aqui.

Obrigada, Novaes/ por compartilhá-la.