quarta-feira, 28 de maio de 2014

Copa pra quem?












Eu não ia escrever nada sobre a Copa, mas hoje, com a repercussão do compartilhamento de um texto do jornalista Thiago Falcão pela Joana Havelange, me indignei. Diz o texto: “Não vou torcer contra, até porque, o que tinha que ser gasto, roubado, já foi. Se fosse para protestar, que tivesse sido feito antes”. Acho essa fala um absurdo e endosso o coro dos que protestam.

Protestamos contra a inversão completa de valores, de prioridades. Um país onde doentes agonizam no chão de hospitais e perambulam em busca de atendimento, onde a falta de sistemas de esgotamento sanitário atinge quase metade dos municípios brasileiros, onde cerca de 50% dos jovens não conclui o ensino médio dentro da faixa etária prevista (e nem estou falando da qualidade do ensino), onde mais de 20% das mortes de jovens em grandes cidades são fruto da violência e do tráfico, onde aproximadamente 22% da população da dita cidade maravilhosa mora em ‘comunidades’, somando mais de 1,400 milhão de favelados, não poderia, se fosse sério, se dar ao luxo de gastar mais de R$ 8,3 bilhões numa Copa, e isso para falar apenas em construção de estádios, praticamente o triplo do que gastou a África do Sul.

O povo não foi consultado sobre isso, não houve plebiscito, não se pré-informou ninguém do orçamento bilionário que ainda seria, e em muito, superado. Como praxe dos políticos daqui, anuncia-se o que virá de ‘bom’ e escondem-se todas as falcatruas. A estimativa de gastos dos turistas é de cerca de R$ 3 bilhões, a dos empregos gerados, aprox. 500 milhões. E toda a enorme diferença negativa você e eu, novamente, pagamos.

Portanto, no mínimo do mínimo, é preciso que fique claro ao mundo que boa parcela da população brasileira não concorda com isso e está completamente dissociada desta estirpe de políticos. Futebol e carnaval não podem mais ser ópio do povo, o povo não quer mais entorpecentes para esconder a pobreza, a miséria, a falta de respeito, a corrupção. Acordamos do mal da vaca de presépio, despertamos da inação. Não queremos prédios suntuosos de justiça, queremos justiça. Não queremos um país para inglês ver, mas para a gente viver dignamente. A taça que eu quero levantar é a da luta e da vitória do povo brasileiro pelos quesitos básicos de um país desenvolvido. E você?