Leitores amigos, a carta abaixo enviei hoje, dia 30 de agosto, pelo e-mail que achei fuçando na internet. Tomara que chegue até ele. Mas de qualquer forma, sinto-me honrada em fazer propaganda desse livro que é simplesmente maravilhoso e apaixonante.
Querido Valter Hugo Mãe,
Desculpe-me o abuso de chamá-lo querido quando sequer me conhece, mas é que eu o sinto assim tão perto agora, após a leitura de “A máquina de fazer espanhóis” que não posso usar termos como prezado ou estimado, parece algo distante e você (mais uma ousadia, permita-me por favor) definitivamente me aproximou dos mais velhos, me aproximou de mim mesma em um futuro médio, me reaproximou dos meus velhos de uma forma gostosa e natural que não julgava possível.
Não sei como você fez para, ainda assim, jovem, passar uma vivência própria da terceira idade, a isto responde a genialidade da sua obra. Não me importa sabê-lo, só quero mesmo poder sentir esse aprendizado de respeito que respiramos nas suas páginas. Também não tive um pai que chegou à terceira fase, mas tenho uma mãe que lá está, tive duas avós que chegaram à quarta e tenho alguns tios em caminho adiantado. Entendo mais da dignidade nessa etapa agora, graças a você. Obrigada.
Tenho uma ideia mais clara do que é o medo, a humilhação, a solidão não escolhida, o aproximar do fim a cada dia e as releituras críticas de um caminho traçado ao longo dos anos, por vezes marcado pela prepotência e arrogância dos áureos tempos. Sei um pouco mais das possibilidades que podemos ainda vislumbrar, a importância da amizade, do riso bobo, das brincadeiras e até do amor. No meio do fim, ainda o começo de algumas alegrias.
Ah se toda a humanidade pudesse ler seu livro e sentir um pouco a dor de perder um grande amor, a dor de ver partir um amigo após o outro, a dor de ter que abdicar de sua autonomia, de ser obrigado a cumprir sentenças proferidas por seu corpo, mesmo quando seu cérebro podia e queria mais. E ainda suportar a ignorância dos filhos que, não sabendo como agir, escolhem formas duras de mostrar que a vontade perdeu seu dono. É frustrante, broxante, triste, amargo, humilhante, como o paralelo que fez com Portugal, mas mesmo assim ainda bonito, digno e feliz, aqui e acolá, como talvez fosse na Espanha. Obrigada novamente, por permitir-me uma compreensão e, a partir dela, a possibilidade de agir de outra forma.
Li seu livro devagar, saboreei as palavras, economizei nas páginas para que se demorasse o fim, numa combinação inimaginada, mas inequívoca: a comparação com a alegoria descrita.
Um abraço muito afetuoso e minha eterna admiração,
Rita Magnago
P.S: Faço parte do Clube de Leitura Icaraí (http://clubedeleituraicarai.blogspot.com/) e seu livro foi o vencedor da votação para o mês de outubro, quando o debateremos, na livraria da Universidade Federal Fluminense, em Niterói.