quarta-feira, 23 de maio de 2012

Não denunciar é um abuso à nossa dignidade


Que rebuliço a entrevista de Xuxa ao Fantástico! Eu soube na segunda, pelo jornal, e hoje fui procurar a dita cuja no youtube para ver se me passava verdade. Passou, mas isso nem importa. Impressionante foi o retorno que deu. Mais de 220 mil denúncias de abuso sexual feitas desde a noite de domingo, um recorde e tanto para o serviço de Disque Denúncia. E um recorde alarmante e assustador. Que país é esse minha gente?

No vídeo, mais pro final, Xuxa fala de vergonha, culpa, medo, falta de experiência, sensação de sujeira, de estar errada, mudança de comportamento, introspecção, recolhimento. Na infância e a adolescência parece que esses sentimentos estão todos aumentados, tamanha é nossa insegurança com a gente e com o mundo. Os adultos precisam ajudar, perceber, conversar, orientar.

Acho que esse é um dos motivos pelos quais sou fã das séries tipo "Law and Order" que abordam muito essa problemática. Vejo para conhecer, estar atenta, notar algum detalhe, poder alertar minhas filhas, dar algum tipo de segurança, apoiar. Acho isso fundamental. É preciso que desenvolvamos ao máximo essa capacidade observadora que às vezes temos tão tímida e usá-la a nosso favor. Muito difícil conhecer a si próprio, imagina aos outros. E ter a coragem de se expor, expor seus familiares, mostrar seus fantasmas, deixar a hipocrisia de lado uma vez que seja, me faz acreditar na força de um exemplo do bem. Estava mesmo precisando.

sábado, 5 de maio de 2012

PARA OLHOS DE VER E SENTIR

 
O caderno ELA de hoje, 5 de maio, traz lindas fotos do povo angolano herero (aliás em exposição no Museu Histórico Nacional), mas o que fica cristalizado para mim são as formas múltiplas de se viver as diferenças, sem certo ou errado, combinações distintas eleitas por povos de tantas etnias.

Se me fosse dado escolher, onde é que meu coração quereria nascer? Tão arraigados que estamos aos nossos costumes, sabemos ainda onde está a relativização dentro de nós?



A cultura me vem aos olhos
marejados
pela poética da diferença
de tantas tribos
que somos nós.

Saudo os hereres
polígamos nos quais
pais não se importam
em saber se criam
a prole de seu sangue.
Ora, se criam, são seus.

A simplicidade com que
podemos terminar com
rixas, rachas, dores, mortes
é isso que assusta-me o coração
já viciado com o pó ocidental,
a maquiagem que forja beleza
e professa falsa certeza
onde há pequenez e rudeza.