Semana retrasada postei um conto meu no blog do Clube de
Leitura Icaraí. Recebi muitos comentários surpresos, escritos ou falados, e um
longo telefonema de uma prima muito querida. Ela me perguntou: Por que é que
você escreveu isso? O que você quis dizer? E me contou, do alto de toda uma
vida conhecendo bem a minha, as considerações que teceu e juntas trançamos e
destrançamos essa teia gostosa da qual mal nos apercebemos quando estamos em
processo, em construção, ou seja, no sempre.
Eu não tinha me questionado absolutamente porque inventei
aquele conto, taxado como repugnante por diversos leitores (abaixo o link para
os corajosos), mas foi muito bom fazer esse trajeto, incerto, ao lado de uma
voz amiga.
E quando não conhecemos os autores, refletimos também sobre
isso? Ou quando os autores não se identificam, é o medo de exporem seu outro
lado que fala mais alto ou talvez o respeito à privacidade de familiares e
amigos?
Hoje, folheando o Caderno Prosa, em sua versão piorada após a
reforma que o O Globo impôs, li com
gosto o ensaio da Elvira Vigna intitulado “Tentativas sobre o conto”. Ela cita
diversos autores e suas opiniões a respeito, mas identifiquei-me especialmente
com a do Ricardo Piglia que diz que o autor de um conto deve estabelecer duas histórias
que correm simultâneas e são o contrário uma da outra. Sem querer, eu fiz isso,
talvez curvando-me ao óbvio conflito que mora nessa alma e que agora não
precisa mais se esconder.