Após muito tempo, vejo um filme brasileiro que me agrada. Não repete fórmulas de violência, favelas, violência, sexo. Questiona, revela, trava um diálogo existencialista com o espectador, você sai pensando. Recomendo. O poema abaixo fiz no dia seguinte ao filme.
ENTRE ABELHAS
Um olho aberto.
Decerto
aqui por perto
aqui por perto
vejo tudo:
formas, nuances, cores
mas de objetos.
As pessoas...
elas começam a sumir.
Como assim?
O que é isto?
Enlouqueço?
Marco contornos em fotos
são de gente que enumero
para não esquecer
e para lembrar.
Perco-me entre ausências
e presenças
as mais importantes ainda estão lá.
Será que é porque estão aqui dentro ?
E até quando?
Na rua me esquivo
deixo a mão tatear adiante
o vazio que pode ser de gente.
O meu vazio intocado ?
Trombo na falta do outro
na presença invisível.
Como amedronta!
O que não vejo
também não ouço
não há colírio
não há remédio
nenhuma ajuda é simples
preciso descobrir-me.
E se o espelho não mostrar mais
a minha face?
Que rosto escondo?
Isolo-me.
Perdi o amor
da mulher
da mãe.
Onde está o meu próprio?
Desisto.
Estratégias vãs
não humanizaram as coisas.
Recolho lembranças
encaixoto a visão
e então sobrevém o oculto:
atrás dos outros
por trás de mim
é a vida prostituta
quem me aponta o caminho.
As abelhas ... a colmeia.
Eu inseto, eu passarinho
retornando de voo cego
de volta a algum ninho.
Rita Magnago
Rita Magnago
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