sábado, 9 de maio de 2015

ENTRE ABELHAS, um filme revelador

Após muito tempo, vejo um filme brasileiro que me agrada. Não repete fórmulas de violência, favelas, violência, sexo. Questiona, revela, trava um diálogo existencialista com o espectador, você sai pensando. Recomendo. O poema abaixo fiz no dia seguinte ao filme.





ENTRE ABELHAS

Um olho aberto.
Decerto
aqui por perto
vejo tudo:
 formas, nuances, cores
mas de objetos.
As pessoas...
elas começam a sumir.

Como assim?
O que é isto?
Enlouqueço?
Marco contornos em fotos
são de gente que enumero
para não esquecer
e para lembrar.

Perco-me entre ausências
e presenças
as mais importantes ainda estão lá.
Será que é porque estão aqui dentro ?
E até quando?

Na rua me esquivo
deixo a mão tatear adiante
o vazio que pode ser de gente.
O meu vazio intocado ?
Trombo na falta do outro
na presença invisível.
Como amedronta!

O que não vejo
também não ouço
não há colírio
não há remédio
nenhuma ajuda é simples
preciso descobrir-me.
E se o espelho não mostrar mais
 a minha face?
Que rosto escondo?

Isolo-me.
Perdi o amor
da mulher
da mãe.
Onde está o meu próprio?

Desisto.
Estratégias vãs
não humanizaram as coisas.
Recolho lembranças
encaixoto a visão
e então sobrevém o oculto:
atrás dos outros
por trás de mim
é a vida prostituta
quem me aponta o caminho.
As abelhas ... a colmeia.
Eu inseto, eu passarinho
retornando de voo cego
de volta a algum ninho.

Rita Magnago


Veja o trailer do filme



2 comentários:

  1. Comentário depois de ver o filme...Muito instigante sua indicação!
    Elô

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  2. Bravo! Muito bonito, à altura do filme, que vi como uma metáfora do que acontece quando sofremos perdas importantes.

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