Noutro dia minha filha de 11 anos estava lendo um livro pela metade, mais ou menos, e eu comentei:
- Tá legal esse livro?
- Não sei ainda, comecei há pouco.
- Ué, como é que você já está aí então?
- É que o começo do livro é chato, então eu vou logo bem mais pra frente.
E fez com a mão um gesto de lenga-lenga para mostrar que o ritmo das primeiras páginas deixava a desejar à sua volúpia de leitora mirim, ávida por aventuras. E olha que era um livro tipo série, de uma autora admirada - ela já leu outros e gosta do estilo. Imagina se não gostasse...
Ah, as crianças. Que sabedoria nos trazem. Eu disse pra ela que se resolvesse escrever um livro, um dia, também ia começar pelo meio. Deve mesmo ser por isso que muitos cineastas trazem às telas películas onde entender o tempo em que se passam as ações faz parte da compreensão da obra, além naturalmente de ser interessante para prender mais a atenção do expectador - do contrário o pobre não entenderá patavinas.
Lembrei também que recentemente li no jornal um comentário sobre a ótima audiência de uma novela recém estreada onde acontece um monte de coisas no capítulo inicial, a mulher faz uma M com a filha do cara, a menininha conta ao pai, que vai desmascarar a safada, mas acaba morrendo em um acidente. A viúva então conhece um jogador de futebol, vê nisso a oportunidade de enricar, casa com ele, etc, etc e já aparece abastada muitos anos depois.
Caramba, será que daqui pra frente só o que for dinâmico, rápido, corrido vai ter vez na cabeça das novas gerações? A aposta do twitter, facebook e outros sites de relacionamento parece indicar que sim. Eu, porém, gostaria de reavaliar esses caminhos, mas vai ficar para outro post, para não cansar vocês, rsrsrs.
P.S: Enquanto esperam, saboreiem a frase do Joel Santana sobre o jogo de sábado entre Flamengo e Vasco: "No futebol, as coisas mudam com uma rapidez muito rápida".
A imagem é a cara da Amanda.
ResponderExcluirMonteiro Lobato já lançava a hipótese de fazer os livros comestíveis para que fossem mais interessantes
ResponderExcluirkkk confesso que eu que disse isso,mas não sei se pareço muito com a garotinha da foto!!!
ResponderExcluirkkk, RAPIDEZ MUITO RÁPIDA!!!
Grande filósofo Joel Santana, para lembrar outras "pérolas": "Clássico é classico e vice-versa!" (Jardel), "Quem está na chuva é pra se queimar!" (Vicente Matheus). Ainda, em ocasião da generosidade de uma cervejaria em ceder lotes de cervejas gratuitas para a comemoração de um título do Corinthians, além de filósofo, foi profeta- previu a fusão- "Gostaria de agradecer à Antartica pelas brahminhas que nos mandou!" (Vucente Matheus)
ResponderExcluirRita, nós viemos do século XX, o século da velocidade. É o século do automóvel, do avião, das viagens ao espaço, da televisão, do telefone, do computador, da internet, das mensagens instantâneas, do Fast-food... ufa! É muita coisa, né? Pois então, passamos a acelerar a vida, a viver num rítimo alucinante, e com isso nos tornamos ansiosos, não temos mais paciência para esperar nem a comida ficar pronta, já queremos comprá-la prontinha para comer...
ResponderExcluirMas falando sério, essa é uma questão sobre a qual muitos têm se debruçado. Se você conseguir um tempinho (olha o tempo aí) procure no youtube "não nascemos prontos", é uma boa palestra do professor e filósofo(embora alguns torçam o nariz)Mario Sergio Cortella, ele fala sobre isto, você e eu podemos discordar de uma ou outra coisa, mas há coisas interessantes ditas por ele. São quatro partes.
Um abraço
Antonio,
ExcluirAssisti aos vídeos. Há realmente muitos pontos interessantes sobre essa questão da tecnologia, da correria, do nosso comportamento atual e, depois, do nosso próprio espanto com o que vivemos e o que vemos refletido no outro. A questão do processo como amigo da paciência é muito legal, a importância da convivência numa refeição demorada, quer no compartilhamento de seu preparo ou de sua degustação. Precisamos desse tempo. Do tempo de conhecer, de aprender, de amadurecer, de saber viver. Do tempo de ser feliz. Obrigada pela sua participação sempre enriquecedora.
È verdade Rita! somos hoje muito exigentes com o tempo. Antes, esperávamos uma semana ou mais para recebermos resposta de uma carta. Abrir o envelope dava aquela alegria ! Líamos a carta várias vezes! Passado algum tempo, respondíamos dando outras notícias. Vc falou em paciência! grande virtude!!! Compartilhar hoje ficou por conta de um email e o deletamos imediatamente enviando resposta naquele instante.
ResponderExcluirMas muitos ainda conservam amigos através de ótimas trocas em grupos e a geração de jovens casais, têm ouvidos para as falas dos filhos! Seu texto deu o que pensar! Há esperança!Bjs Luzia Veloso
Essa pressa tem gerado grandes catástrofes pela falta de atenção.Nos primórdios, a leitura era feita em voz alta, e isso provocava um capricho na interpretação do pensamento doa autor.Hoje as pessoas leem e vão logo colocando seus pensamentos antes de conhecer melhor toda a tecitura da trama. Sou daquelas que deixa um livro inacabado para ler com calma e degustar.Um detalhe mal lido pode estragar o todo. Tenho pena desta velocidade que não permite viver a intensidade dos momentos.
ResponderExcluirCaramba eu sou lentíssima na leitura, no entanto, sou movida as sensações de minhas leituras e, por isso, cometo erros crassos em comentários que faço, porque não faço revisão e sempre assassino o portugues (como provavelmente cometerei aqui). Conheço pessoas que lêem dando macros saltos: primeira e segunda paginas, meio do livro e final. Nunca que eu iria fazer isso. Mesmo lerda, prefiro ler vírgula por virgula.
ResponderExcluirQuanto ao tempo do cinema, já não implico tanto com ele, pois a um tempinho atrás, ao ler os dois primeiros livros e metade do terceiro da "saga crepúsculo", ele me salvou. Ufa, a leitura foi se arrastando, tudo bem que a autora tentou reproduzir uma noção de como os adolescentes vivenciam os amores, mas eu já não aguentava mais ler "ele é tãooooooooooooooo lindo" ou sua pele gelada, fria, branca, só de lembrar, me dar nos nervos. O filme, por outro lado, pulou essas partes idiotas (a meu ver) e deu uma agilidade a trama. Quase sempre gosto mais de ler o livro do que assistir ao filme, mas nesse caso, foi uma benção ver o filme. Minha amiga disse que o 4 e melhor, mas cade a coragem de enfrentar o termino do 3(olha que já estou na metade faz uns 6 meses). Talvez eu faça como sua filha, uma única vez na vida, pularei o lenga lenga do 3 e vou direto para o 4 (ainda vou negociar comigo mesma.
Helene, tem uma frase que minha professora de yoga repete sempre e eu amo e estou introjetando: a não violência, a começar pelo seu corpo, e o respeito aos limites de cada um. Acho que é isso, somos únicos, cada um de nós. Meu tempo de leitura pode ser mais rápido ou mais lento que o seu, por exemplo, e daí? É o meu ritmo. Essa coisa de sermos padronizados, igualados a uma média e daí jugados se acima ou abaixo é que gera a competição desenfreada, o estresse, a violência e a infelicidade. A medicina já está evoluindo para o tratamento individualizado, acho que devemos ter isso em mente em tudo que fazemos.
ResponderExcluirEstou lendo Elogio à Madrasta, de Mario Vargas Llosa. Indicação da minha mãe. O primeiro capítulo é impactante, os dois seguidos (estou no terceiro agora) fogem um pouco da temática principal do livro. Acho que isso ocorre com frequência. No caso desse livro, não deixa de ser instigante.
ResponderExcluirAnna Luiza Moura.
Lembram-se da linda música cantada por Almir Sater "Ando devagar porque já tive pressa,,,"? Queria poder cantar com ele. Será que, algum dia, aprenderei a andar devagar? Já estou próxima dos oitenta e continuo correndo. Preciso calma, como ele diz, para poder sentir "o sabor das manhas e das manhãs e o sabor das massas e das maçãs...". As únicas coisas para as quais tenho todo o tempo e que não me exigem pressa são:ler, leio devagar, saboreando as palavras e brincar com minha bisneta Isabella, me rejuvenesce.
Elenir
Nossa, vocês não imaginam quantas coisas me passaram pela cabeça com este post e seus comentários. Como sou múltipla tenho várias formas de ler. Leio Isabel Allende em todos os Janeiros bem devagar, aproveitando ao máximo sua presença que sempre me trás o que não tenho. Já em busca por entender as novas gerações, pulo várias páginas dos 50 tons de cinza para entender o que atrai um livro tão lido e tão vendido. Vejo que as filhas das minhas amigas fazem análise positiva do livro e tento chegar ao quarto vermelho mas não consigo (vale aqui todas as metáforas possíveis). Desisto porque quando me dou conta que é uma trilogia, penso que a autora deve ter guardado a chave do quarto vermelho para a última página do último livro e sem paciência abandono a leitura.
ResponderExcluirHouve um tempo em que eu precisava assistir as novelas da tv para ter o que falar com as pessoas a minha volta para poder me aproximar das pessoas e tentar entendê-las.
O mais impressionante de tudo é que algumas pessoas conseguem usar os seus saberes para atingir a massa e ganhar muito dinheiro e poder comprar tudo. Comprar tudo.
Rita..bom compartilhar do seu blog..Ceci
ResponderExcluirSei não, Rita, eu sou um cara desconfiado feito meus parentes lá de Minas. As coisas andam, andam e acabam dando voltas neste mundo sem porteiras e parando no mesmo lugar. Pode ser que daqui a um cadim, tudo volte a ser como dantes no mar de abrantes! (é mais ou menos assim).
ResponderExcluirCarlos.