Quero dizer que te amei a vida inteira, mas você fez
sangrar meu coração e agora choro todo dia. Piegas? Careta? Lugar comum? Mas
foi assim mesmo que eu comecei minha cartinha para aquele que eu julgava ser meu
namorado firme. Também, eu só tinha 14 anos, nem sabia o que queria dizer uma
vida inteira. Era tão romântica, ou tão ingênua, ou ambos são a mesma coisa,
nem sei mais.
Naquela época eu gostava de ver novela e dramatizava
tudo. Uma cena que ficou gravadíssima e achei o máximo foi um tapa na cara que
a Regina Duarte deu no namorado dela, quando desconfiou de uma traição, acho
que aconteceu em “Carinhoso”. Queria fazer também e por isso escrevi aquela
bobajada. Não deu outra, ele me ligou e marcamos um encontro no antigo Centro
Comercial de Madureira - lá eu podia ir com a minha prima e meus pais nem
desconfiavam.
Se eu usasse drogas, diriam que naquele dia estava chapada,
pois mal o Reinaldo (nome do infeliz com quem desempenhei meus parcos dotes de
atriz) despontou no corredor do shopinzinho e eu parti em sua direção como uma
fera, sentando-lhe um tapa na cara. Lembro-me do seu olhar incrédulo, esbugalhado,
um olhar que perguntava “essa garota enlouqueceu?” Eu saí correndo, minha prima
atrás, e nunca mais vimos o Reinaldo.
Conto tudo isso porque hoje minha visão do amor é tão
outra... Embora eu não saiba ainda o que é, e portanto definir é impreciso, eu
sei sentir. O corpo inteiro fala comigo: olhos estranhamente congelados
assistem ao mundo se esvair em vontade de ficar junto; maxilares semi-inertes
não sabem mais ruminar ciúmes; estômago delicado baila na dança que o ventre
ensina, digerindo o medo em enzimáticas delícias do viver; mãos e pés em febre
curam minhas chagas; bambeiam pernas, misturam-se os abraços. Eu pareço que vou
desabar, mas é aí que encontro minhas maiores forças. Um beijo demorado entrega
a minha alma enquanto meu sangue fervilha. Ruborizo toda e sou incapaz de
enganar ou disfarçar. Um tapa na cara? Nada mais longe do que é o amor para
mim.
Ah, a juventude, ah o amor.
Ah! O amor ou paixão, o que vier é tão bom de sentir, logo porque nem bem sabemos qual é limite de um e outro. Engraçado que também lembro de uma cena pasquintenesca, novelesca das mais dramática aos 13 anos de idade. Apaixonei-me por um portuguesinho desengonçado que arrebentou meu coração caipira e bronco. Não me lembro onde já comentei esse acontecido, mas o fato é que começei a ter um trelelê com o Antônio Vitérabo (vulgo Tuninho) e quando os pais dele descobriram que eu era uma nordestina sem eira e menos beira ainda, proibiram-no de me namorar e minha mãe ofendidíssima me proibiu mais ainda. Agora é que vem a cena tragicômica, ela disse que eu não ia namorar o tuninho nem por cima do cadáver dela e bateu a porta e saiu, eu encostada na porta fiquei chorando e escorregando até o chão, coisa de novela mesmo. Mas verdade seja dita, meu coração nunca mais bateu tão gostoso quanto bateu naquela época, uma lástima, mas nem todas nascem com aquilo para a lua, acho que o meu ficou pro lado do sol rsrsrsr, contudo, não perco a esperança de sentir a jugular pulsar enfurecida e desmedidamente incontrolável rsrsrsr (coisas de tola).
ResponderExcluirO que falar do amor assim tão ingênuo e bem-humorado? Foi muito bom revisitar as lembranças do passado amoroso e levemente infantil. Amei o tapa na cara, deu uma pitada de humor ao caso de amor. Gostei também do que contou Helene Camile sobre o Tuninho, um amor que não venceu as barreiras impostas pela família. Assim temos casos e casos para contar. E ri muito também. rs
ResponderExcluirAbraços! Sonia Salim
Sonia, o que adoro nos textos de Rita é que ela fala de coisas tão singulares, mas que tem o poder de nos fazer entender que é desse cotidiano ínfimo e vivido que vamos construindo a vida e a alma. As peculiaridades que parecem ridículas tomam vulto de acontecimentos épicos, o que nos faz sentir bem só de lembrar.
ResponderExcluirQueridas Sonia e Helene, adoro a participação de vocês, sempre acrescentando. Acho que essas coisinhas que nos saem, às vezes colorindo a memória, vão nos preparando para revelações maiores que guardamos ainda fundo no corpo da gente, cicatrizes em espera de atenção. Em mim, tudo quer ser alma.
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