Uma maratona antes da Copa. Dia 8, em Niterói; dia 9, no Rio; e dia 11, véspera da Copa, em Maricá. Ainda bem que não fui escalada para a seleção, rsrsrs.
Dizem que o período que antecede nosso aniversário não é lá muito auspicioso, mas eu estou curtindo. Poder lançar meu segundo livro no mês em que completarei mais uma primavera, ainda que estejamos no outono, será muito bacana. No primeiro livro o lançamento foi atropelado porque minha filhota estava dodói e internada, eu só saí do hospital mesmo porque tinha compromisso assumido, mas a ausência dela deixou um vazio no meu coração. Agora espero que tudo siga bem e por isso mesmo agendei o lançamento nas três cidades que fazem parte da minha vida: Niterói, Rio e Maricá.
Vou ficar muito feliz de reencontrá-los em uma das datas abaixo.
Até breve!
Eu não ia escrever nada sobre a Copa, mas hoje, com a
repercussão do compartilhamento de um texto do jornalista Thiago Falcão pela
Joana Havelange, me indignei. Diz o texto: “Não
vou torcer contra, até porque, o que tinha que ser gasto, roubado, já foi. Se
fosse para protestar, que tivesse sido feito antes”. Acho essa fala um
absurdo e endosso o coro dos que protestam.
Protestamos contra a inversão completa de valores, de
prioridades. Um país onde doentes agonizam no chão de hospitais e perambulam em
busca de atendimento, onde a falta de sistemas de esgotamento sanitário atinge
quase metade dos municípios brasileiros, onde cerca de 50% dos jovens não conclui
o ensino médio dentro da faixa etária prevista (e nem estou falando da
qualidade do ensino), onde mais de 20% das mortes de jovens em grandes cidades são
fruto da violência e do tráfico, onde aproximadamente 22% da população da dita
cidade maravilhosa mora em ‘comunidades’, somando mais de 1,400 milhão de
favelados, não poderia, se fosse sério, se dar ao luxo de gastar mais de R$ 8,3 bilhões numa Copa, e
isso para falar apenas em construção de estádios, praticamente o triplo do que
gastou a África do Sul.
O povo não foi consultado sobre isso, não houve plebiscito, não se pré-informou
ninguém do orçamento bilionário que ainda seria, e em muito, superado. Como
praxe dos políticos daqui, anuncia-se o que virá de ‘bom’ e escondem-se todas as
falcatruas. A estimativa de gastos dos turistas é de cerca de R$ 3 bilhões, a
dos empregos gerados, aprox. 500 milhões. E toda a enorme diferença
negativa você e eu, novamente, pagamos.
Portanto, no mínimo do mínimo, é preciso que fique claro ao
mundo que boa parcela da população brasileira não concorda com isso e está completamente
dissociada desta estirpe de políticos. Futebol e carnaval não podem mais ser ópio
do povo, o povo não quer mais entorpecentes para esconder a pobreza, a miséria,
a falta de respeito, a corrupção. Acordamos do mal da vaca de presépio, despertamos
da inação. Não queremos prédios suntuosos de justiça, queremos justiça. Não
queremos um país para inglês ver, mas para a gente viver dignamente. A taça que eu quero levantar é a da luta e da vitória do povo brasileiro pelos quesitos básicos de um país desenvolvido. E você?
Dizem os entendidos que julgam e distribuem o Oscar que “12 anos de escravidão” foi o melhor filme da safra. Por acaso o assisti na quinta-feira que antecede o Carnaval, ciente dos, então, rumores de “já ganhou”. Um bom filme, sem dúvida, mas é preciso vê-lo com o pé atrás.
Já de saída, duvidei do título: como apenas 12 anos de escravidão? Não que eu ache pouco, nem uma hora sequer o seria, mas é sabido que a escravidão durou muito, muito mais, inclusive nos Estados Unidos, onde se passa o filme, na década de 1840.
Sem querer ser ‘spoiler’, já que o próprio resumo do filme assim o diz, trata-se fundamentalmente do sequestro de um jovem negro, classe média, casado e com dois filhos, músico, letrado, com vida confortável e trabalho honesto, escravo liberto, que é subitamente enganado, embebedado e assim sequestrado para ser vendido como escravo. Ele passa 12 anos nessa situação.
Exploração, maus tratos, péssimos tratos, tratos piores ainda e o que mais você já sabe e conhece do que foi esse período abominável da história humana, em qualquer parte do mundo. Tudo retratado pelo filme, sob a ótica do jovem injustamente escravizado. E é aí que precisamos focar.
Para mim, a beleza e a importância do filme estão no olhar crítico que precisamos ter sobre o todo, sobre aquele conjunto imenso de homens, mulheres e crianças que foram escravizados, não importa se sequestrados ou não, se ex-escravos ou não, para que nunca mais se repita horror semelhante.
A pungente situação de injustiça e atrocidade existiu não apenas para aquele que durante uma dúzia de anos o sofreu na pele. Isso reduziria o absurdo do cativeiro e da servidão e faria mais palatável a aceitação das terríveis consequências vindouras: discrepância enorme entre pobres e ricos, oportunidades tremendamente desiguais em termos de acesso à saúde, educação, cultura, trabalho, enfim, cidadania, para reduzir ao mínimo a análise da questão nos dias atuais.
Não estamos onde estamos por acaso. Os negros constituem hoje a maioria dos pobres, dos que têm menos anos de escolaridade, dos que disputam os empregos mais humildes e mal pagos, dos que são presidiários. E nada disso é coincidência.
Ao fim e ao cabo, e mesmo sem entrar nos meandros dos interesses econômicos que incentivaram tantas mudanças sociais, é preciso que se diga que a escravidão persiste ainda e em imensa escala, se não através do que nos foi dogmaticamente ensinado a entender como tal, através de tantas outras formas de exploração, espoliação, humilhação e falta de respeito, para citar tímidos exemplos.
Este é um filme que passa cotidianamente nas ruas de países como o nosso, quando driblamos o menino descalço que vende balas no sinal, quando desviamos nosso olhar do mendigo que dorme sob o viaduto, quando escolhemos um caminho que não nos leve aos acessos das favelas. É um filme que fingimos não ver, que preferimos não ver e, acho, que não se seria premiado pela academia não.