segunda-feira, 30 de maio de 2011

A beleza que apavora


Sexta-feira agora debateremos, no Clube de Leitura Icaraí, o livro “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. O tema é a beleza, seu caráter passageiro e o que o homem está disposto a fazer para manter-se belo e jovem.

No livro, Dorian Gray, lindo jovem, é pintado por um artista renomado, Basil, e o quadro fica tão deslumbrante que Dorian se apaixona por ele próprio. Ao mesmo tempo, considera o quadro a pior coisa, uma crueldade sem tamanho porque, enquanto pessoa, envelhecerá, ficará feio, enrugado, ao passo que a tela conservará para sempre aquela beleza indelével. Dorian diz que deveria ser o contrário, o quadro deveria mostrar o passar do tempo enquanto ele permaneceria jovem. E na ficção, assim ocorre. O jovem, que até então tinha seus defeitos, mas era boa pessoa, trava amizade com outro amigo do pintor, lorde Harry, recheado de vilania. Essa convivência desperta o pior em Dorian. E por aí vai.

Muitas coisas me assustaram nessa narrativa, considerando-a possível. Listei algumas que ensejaram um excelente debate aqui em casa.

1 - Como seria nossa aparência se nosso rosto espelhasse todos os nossos defeitos? Haveria alguém bonito?

2 - Dentro desta lógica, se fosse possível melhorar para não ser tão feio, a humanidade faria essa opção ou, já que praticamente todo mundo era feio, ficava por isso mesmo?

3 – Já imaginaram transar nesse cenário? Será que teria que ser com máscara?

4 – A que corresponderia cada ‘defeito’? Uma mentira, uma verruga? Humilhação, uma espinha? Roubo, uma cicatriz? Assassinato uma deformidade?

5 - Os maus, assassinos, estupradores, pedófilos, seriam os mais feios. Mas uma pessoa, por exemplo, que ficasse confinada em um quarto a vida inteira com outra e, de repente, matasse essa outra, seria quão feia, considerando que isso seria a pior maldade a seu alcance?

6 – Quem fica com a marca de uma morte? Quem mata? Quem manda matar? Quem induz o outro ao crime? Qual seria a aparência dos presidentes de países bélicos, seus generais e soldados?

Deixo com vocês um poeminha que fiz sobre essa reflexão e espero que me brindem com a opinião de vocês.

Sonhei que nosso rosto era espelho de nossa beleza interior
Recolhi lençóis e andei de olhos fechados cobrindo espelhos
Não fui à rua, com medo de olhares alheios
Como seria o julgamento exterior?

Passei em revista os anos vividos
Ouvidos fechados, língua ferina, nariz empinado
Cabelo prosa, olhar soberbo, sorrisos contidos
E agora, o que restará do encanto forjado?

Um comentário:

  1. O encanto se esvai
    não porque o cabelo fica triste
    ou o sorriso cai.
    O encanto se esvai
    quando o coração é contido
    e a emoção não sai.

    Angelica

    ResponderExcluir