sábado, 26 de novembro de 2011

Que país é esse?



Essa semana saiu uma notícia de capa de jornal, não me lembro mais o dia, tímida, pequenina, quase no pé da página, como se se envergonhasse de si mesma. Os fatos em si são ultrajantes e tão absurdos que me fiz novamente a pergunta: Que país é esse?

Que país é esse onde se gasta com o sistema carcerário, absolutamente ineficiente, incapaz de devolver gente com um mínimo de sanidade à sociedade, até mais de nove vezes do que se gasta em educação?

Alguns dados de gasto anual:

Com aluno do ensino médio
Com aluno do ensino superior
Com preso de prisão estadual
Com preso de prisão federal
R$ 2.300,00
R$ 15.000,00
R$ 21.000,00
R$ 40.000,00

O mínimo do mínimo que se esperaria de um preso é que trabalhasse para cobrir o próprio sustento. Aqui, ao invés, eles ainda têm bolsa marginalidade (R$ 862,60), politicamente chamada de auxílio-reclusão e que é maior do que o salário mínimo e do que restitui o INSS à imensa maioria de aposentados que ralaram anos e anos a fio.

Nós, que pagamos os impostos que sustentam essa política pró-assassina, que sabemos que, se há esperança está na educação, não podemos ficar calados frente a uma notícia bombástica dessas. Acho que o primeiro passo é divulgar esse descalabro aos 4 ventos. Por muito menos se fazem passeatas: do Orgulho Gay, da Liberação da Maconha, da Marcha das Vadias e por aí vai.

Eu quero é um movimento que salve a educação, que valorize os profissionais que a cada dia escasseiam frente aos péssimos salários e condições de trabalho, que devolva seriedade às escolas públicas, onde estudei minha vida inteira, mas onde não tive coragem de matricular meus filhos.

domingo, 20 de novembro de 2011

Uma questão de escolha


 
Eu pensei em escrever sobre o Steve Jobs bem antes, mas aí ia ser tão lugar comum, o jornal não parou de falar nele durante quatro dias seguidos. Resolvi esperar. Até porque a reflexão sobre a vida e a morte é atemporal. Fiquei bolada com um comentário que minha amiga Rose postou no facebook. Eu procurei para colar aqui, mas devido a meus parcos conhecimentos do ‘face’, não achei. Bem, ela dizia mais ou menos que alguma coisa está muito errada e é preciso refletir como ainda hoje uma pessoa morre de câncer tão novo, ainda mais um gênio.

Eu, porém, tenho um outro ponto de vista. Concordo que muita coisa está errada e nem quero enveredar pelos interesses que movem a indústria de remédios, os patrocinadores de cientistas e por aí vai porque preciso alimentar meu bom humor, rsrsrs.

Mas acho que o Jobs nos leva a refletir sobre a qualidade de vida que levamos. Inegável que era um gênio, para o trabalho, o que acabou por atingir uma população imensa que consumiu e consome avidamente as novidades que o mundo capitalista nos entrega day by day. Mas a vida não é só trabalho. E pelo que li, como a maioria dos gênios, seu temperamento era, digamos, no mínimo bipolar. Não creio que devamos cultivar ofensas e agressões nem que as justifiquemos por incompetência. Não está satisfeito, demita que é direito seu, mas sem humilhar. Curta mais a família, selecione amizades, aprecie a natureza porque não sabemos até quando dura o nosso presente de viver e esse encanto de saber que mais dia menos dia ele termina, por doença, acidente ou o que seja, deveria nos motivar a viver e amar o hoje como se não houvesse amanhã, como já bem disse a Legião Urbana na letra de Pais e Filhos.

Acho que perto do final Jobs descobriu isso, tanto que fez a declaração abaixo. Nós podemos descobrir antes. Não percamos a oportunidade!

“Lembrar que estarei morto logo é a ferramenta mais importante que eu já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida. Porque quase tudo – todas as expectativas externas, todo orgulho, todo medo de falhar ou vergonha – essas coisas caem por terra ao encararem a morte, deixando apenas o que é realmente importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que encontrei para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração." Steve Jobs

domingo, 13 de novembro de 2011

Você acredita em sereias?




Termino de ler O outro pé da Sereia, de Mia Couto, livro que, através da imagem de uma santa católica que perdeu um pé em 1560 (transformando-se assim numa sereia, ou seria o contrário?), faz uma analogia belíssima sobre o processo de aculturação sofrido por Moçambique.
Antonio, amigo do Clube de Leitura que também adorou a obra, me brindou com essas descrições:
“Os temas são diversificados. Vão desde a questão da memória, a abordagem dos mitos, a questão da oralidade e da escrita, da guerra etc. Uma das mais importantes é a transculturação”.

Poético até não poder mais, o livro traz muitas passagens inspiradoras. O poema que inicia o texto, fiz após lê-lo. Espero que gostem.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

E falemos das flores...


No sábado teve um evento na escola das meninas, de vez em quando tem, para culminar algum projeto pedagógico. Este, porém, foi muito bacana para mim, ótimo por sinal porque o calendário institucional com a participação das crianças lá só vai até o 5º ano. Foi, portanto, a última vez das meninas.

Bem, a turma das minhas filhas cantou e dançou vestindo a camisa DOE SANGUE e sabe qual foi a música? Pra não dizer que não falei das flores, do Geraldo Vandré. Eu achei muito bacana a escola ter escolhido esse símbolo de luta contra a ditadura, uma música de 1968, mais de 40 anos, como tema. É uma oportunidade das crianças conhecerem um pouco da nossa história e da beleza que se pode fazer com uma letra assim. 


As meninas cantaram de cor e antes, em casa, eu tinha perguntado qual era a música, mas elas não disseram. Já conheciam, porque às vezes eu canto, e por isso elas sabiam que eu gostava e quiseram fazer surpresa. E foi, das boas. Obrigada, queridas!



A foto mais acima é das turmas do 5º ano. Elas estão atrás e não aparecem, por isso fiz também uma só com elas, mãe coruja, sabe como é que é.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Morte que te quero longe



Hoje é Dia de Finados, mas não vou falar dos nossos entes queridos que moram agora em outro andar. Queria comentar uma crônica, disfarçada de matéria, que por acaso li hoje no Globo, no caderno Carro etc. Nunca leio esse caderno, mas a foto do carro da funerária e o título e subtítulo me chamaram a atenção.
A morte pede carona
Ganhar a vida ao volante de um carro fúnebre é de matar. Sentimos isso na pele...

O repórter Marco Antonio Rocha conta com graça do horror das pessoas que querem distância do inusitado veículo. Ninguém quer manobrar, lavar o carro, nem ao menos distribuir panfleto no sinal fechado ou ‘limpar’ o pára-brisas.

A maioria das pessoas deseja tanta distância da morte que alguns nem perto de cemitério passam, outros se benzem sempre, porque como diz aquele anúncio de seguros, “Vai que...”

Morte, morte, cada vez que parte um de nós lembramo-nos da nossa efemeridade e desta agenda aberta que não marca dia nem hora. Assusta-nos a perspectiva de não viver mais, porém devia amedrontrar-nos ainda mais a possibilidade de viver sem aproveitar, sem amar, sem entrega, sem felicidade. Ainda não sei se a morte é sem, mas a vida, esta é com, com certeza.

Sei não, acho que o jornalismo começa a enveredar pelo contismo, o que não é mal, alguns jornalistas escrevem mesmo direitinho e levam jeito novelesco, digamos assim. E se contarmos com as péssimas notícias que lemos na imprensa, um pouco de alma, desde que não seja penada, não faria mal. Salvem as almas literárias!

P.S: A foto é de um carro funerário sem ares fúnebres, mas acho que não emplaca por aqui não.