Semana passada minha amiga Eloísa enviou-me um texto de Affonso Romano Santanna sobre os homens que precisam de reparos. Foi a gota d´água. Apenas uns dias antes eu havia lido no jornal duas matérias escabrosas de absoluto desrespeito a nós, mulheres. Todo mundo já sabe dos horrores que acontecem no Afeganistão e países vizinhos, mas o marido com a ajuda da sogra matar uma mulher porque ela teve a terceira filha e pais afegãos residentes no Canadá afogarem três adolescentes porque elas aderiram às roupas e aos costumes ocidentais foi demais pra mim. E daqui a pouco estaremos comemorando o dia internacional da mulher. Estaremos?
Sempre achei que essas celebrações, se não houvesse grande preconceito, não existiriam. Afinal, quem comemora o dia dos homens? Agora índios, negros, mulheres, esses como ainda são marginalizados, precisam da ‘reverência’.
Acho importante é o olhar crítico, o gesto assertivo, a atuação indubitável pela igualdade de condições, de oportunidades, de vida digna. E isso passa pela educação que damos aos nossos rebentos, desde muito cedo. Das tarefas domésticas que devem ser divididas e ensinadas a ambos os sexos, do ‘pode e não pode’ para meninos e meninas, no namoro, nas festinhas, na vida social e por aí vai.
Não é só dar cultura à mulher. Não somos dondocas mimadas, trabalhamos, produzimos, ajudamos ou até sustentamos sozinhas nossos lares, pensamos, temos opinião sobre tudo, e além disso, gostamos de nos arrumar bonitinhas e perfumadas, ora bolas. Lembre-se disso no 8 de março e façamos a nossa parte para que em breve essa data não precise mais nos recordar que ainda não temos os mesmos direitos.
P.S: A foto é de 1909 e marca um protesto de mulheres contra as péssimas condições de trabalho das operárias da indústria do vestuário de Nova York. A maioria acabou sendo trancada na fábrica e queimada vivo. Essa é uma das origens da nossa atual ‘celebração’.
Pelo menos ainda não criaram o "Dia do Operário"... e bem que ele merecia... Poderia existir ainda o "Dia do Contribuinte F... e Mal Pago". Nesse dia, todos nós, brasileiros comuns, teríamos um feriado, não do trabalho, mas dos impostos. Um dia sem impostos! E o "Dia do Motorista Engarrafado"? Teríamos que pensar como seria a "comemoração", talvez engarrafarmos todas as ruas, mas largarmos os carros lá... um engarrafamento sem motoristas, iríamos todos andando para a praia ou praça mais próxima, num dia de lazer sem carros. Puxa, deveria haver também um "Dia do Favelado", haja vista a opressão que sofrem, em moradias precárias, subhumanas, sem rede de esgoto, sem segurança pública (ainda, a maioria) e sem nada, desvalidos de dignidade. E o "Dia dos Famintos"? Nem imaginamos isso, né? Mas existem, e no mundo são milhões, inclusive crianças e suas mães, seus pais e avós.
ResponderExcluirTudo isso, assim como a discriminação à mulher, nos ofende e nos mata em segredo, um pouquinho a cada dia. Talvez se "lutássemos" pela criação desses "dias" incomuns, tragicômicos, talvez conseguíssemos chamar a atenção para essas ignomínias todas. O problema que vejo no "Dia Internacional da Mulher", assim como no "Dia de Zumbi", é que acabam glorificando o gênero e a raça - o que é bom - mas com isso reduz-se a denúncia dos absurdos sofridos. A mulher sofre enquanto mulher, mas também enquanto contribuinte, cidadã, eleitora, consumidora, motorista, moradora da cidade, etc etc etc... E fica no ar, todo ano, essa "homenagem à mulher" no 8 de março. O que isso significa? A quê leva? Alguma coisa avança por conta desse dia, dessa "lembrança" e "homenagem"? Penso que as mulheres (militância, Rita!) deveriam ter suas pautas nessa data. Tipo a cada ano um tema. De modo organizado, e levá-las às centrais sindicais e outras entidades para que dêem força a essa pauta. Enquanto ficar só no oba-oba, não se chegará muito longe...
Rita, obrigada pela lembrança ao artigo do A.Romano de S.
ResponderExcluirVocê fala em seu texto sobre a violência, o desrespeito à mulheres. Da comemoração deste dia. Bem, o desrespeitos dos homens às mulheres é um desrespeito a eles mesmos.Pois são filhso delas, casam-e com els, vivem com elas. Cada vez que um homem violenta a mulher em palavras ou atos, penso que se violenta e se afasta da felicidade. Cada vez que queria trabalhar este tema nas escolas, em projetos, hommens se insurgiam na brincadeira...Não percebem que ao falarmos da mulher, estamos falando deles também, de seu poder, de sua violência, e de seu possível bem-estar também. O "problema" que vejo em nós , mulheres, é que somos "humanas", contraditórias, assim como eles. E que a sociedade nos reprimiu muito. Não devemos agora é copiar aquilo que neles condenamos: opressão, violência, desrespeito. Temos sim que comemorar pq hoje podemos escolher de forma mais livre o que podemos ser. Gostei das propostas de Newton para as campanhas. Você poderia começar a executar as ideias dele ou vai ter novas ideias...
Abraços e parabéns antecipados por ser esta mulher de fibra e de dengos. Viva o ser humano em seu gênero mais belo, segundo a sua própria opinião e a do outrorsrsr
É verdade, Elô, é como aquele ditado: "Quanto mais Maria fala de João, é mais de Maria que ficamos sabendo." A dialética da vida é isso mesmo, os homens são tal qual as mulheres, sendo que são homens, rsrsrs. Estou impregnada de 350 páginas de Pessoa. Sobre o que eu vou fazer, por enquanto escrever. As propostas do NB são para o meu lado que ainda não descobri, quem sabe um dia? Parabéns a você também por ser esta mulher acolhedora e aberta, poeta do dia e da noite.
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