terça-feira, 5 de junho de 2012

Salve Mia Couto!


Três dias de leitura atenta, prazerosa, curiosa, encantadora. Como posso achar os adjetivos certos para esse moçambicano que poetisa toda sua prosa? Haveria de dizer algo como “pensei que a gastança das emoções já tivesse me consumido toda, mas meu coração inda encontrou verde nesse pasto onde os homens deixaram secar seus corações, sob o sol dos negócios, à sombra dos amores”. Ah Mia Couto, eu queria poder te criar se não existisses.

O livro Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra é simplesmente M A R A V I L H O S O. Leitura para quem ama e não se envergonha. Poder sentir a sabedoria da Mãe África através de frases tão lindas, costumes tão significativos... Um realismo que seria fantástico mesmo se não o fosse, tão impressionante é o estilo, a composição, a justaposição das palavras, escolhidas uma a uma. Fico pensando quanto tempo o autor se debruçou sobre as letras para nos brindar com essa pérola...

Não há um senão nesta obra, perfeita de cabo a rabo, completa no lirismo, na prosa poética, que inspira e transpira os melhores sentimentos, para nós e em nós, lembrando-nos de que, apesar de todo o tecnicismo de nossa era, ainda permanecemos humanos.

10 comentários:

  1. Rita, morro de inveja de você que usa tão bem as palavras. Preciso de mais tempo para poder ler todos os livros sugeridos por você e poder trocar idéias. Sigo em busca de tempo que cada dia passa mais rápido.

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  2. Rita, você parece ter sido arrebatada pela linguagem do fabuloso Mia Couto exatamente como fui também eu. Esplêndido mesmo o moçambicano, completamente merecedor de suas entusiasmadas palavras. Obrigado por você compartilhar conosco seu encanto pela obra lida. Eu tenho em mãos Terra sonâmbula, e que assim que sobrar um tempinho lerei, com certeza. Um abraço,

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  3. Agora sei porque você fica tão distantes dos pobres mortais amigos, é que agora só lê e escreve!
    Ana Maria

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  4. Oi Rita - já leu "O Fio das Missangas" ? Se não, vamos trocar? Também gosto muito do Mia! Beijos, Cris

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  5. Oi Cris, só pra avisar que "tô na fila" desse livro, hein... rsrsrs... Mas prometo "liberar" em breve... Abs!
    Rita está nos saindo, além de poeta e contista, uma cronista de mão cheia. O que escreve nos encanta e, no caso dessa "crítica" literária aqui, deixou um gostinho de "quero ler também!"
    Rose, tempo para ler é na verdade um tempo para nós mesmos. Nem que sejam 15 minutos antes de dormir. Sei que você vai arranjar esse tempo! (E vai gostar muito disso, pois enquanto lemos bons livros o tempo parece passar mais lento, ou pelo menos tão recheado de aventuras que assim nos parece, um tempo mais rico, precioso...). Atrevo-me a dizer isso porque vivo a mesma questão do tempo, além de, no meu caso, sofrer por uma certa implicância que eu tinha - TINHA - com a ficção escrita, que me parecia chata. Coisas de uma infância que não soube me cativar a leitura nem na escola nem em casa. Fico pensando... e se me tivessem apresentado Mia Couto antes? Mas não existia Mia Couto, provavelmente tão criança quanto eu no passado. Não existia o Saramago que conheci há alguns anos. Mas existiam outros, sim, também maravilhosos. O que faltou em mim foi ser apresentado à literatura, por pais ou professores, mas a mediocridade reinante, então, no meu entorno em nada me ajudou. Obrigado, Rita, por expressar seus encantamentos e assim nos "indicar" boas opções de leitura. Continue com esse tema!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Queridos, obrigada pelas postagens. ROSE,concordo com o NEWTON, ler uns instantes antes de dormir é tão bom, até os sonhos ficam mais criativos,rsrsrs. CRIS, assim que ele ler, trocamos, será um prazer, e ANTONIO, me coloca na fila do Terra sonâmbula. ANA, querida tourista, ler é minha viagem.
    Selecionei algumas poucas frases que marquei para vocês sentirem que estilo divino tem essa Mia, sem contar que o texto também tem humor e dados culturais super interessantes.


    Entro na cabina do barco e sozinho-me num canto (p 18)
    E eu, seguindo o rio, eu mais minha instransitiva lágrima (19)
    Ajeita uma vaidade na cabeça... seus olhos se estreitam chinesamente (19)
    Os capinzais se estendem secos, parece que empalharam o horizonte (28)
    Dulcineusa me aponta aquele dedo desunhado e é como se me espetasse uma vaga culpa (31)
    ... reclamar heranças, abutrear riquezas (33)
    Meu pai, caminhando em círculos pela sala, vai passeando a sua impaciência (36)

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  8. Amigos leitores, cresci numa casa cheia de livros. Estimulada pelo meu pai lia, lia e lia. Adoro ler.
    Não posso ler antes de dormir porque a leitura me liga de tal forma que já virei noite para não deixar o pessoal esperando resgaste na Cordilheira dos Andes por mais um dia, tal é a minha viagem.
    Mas, vou me organizar para conseguir mais tempo para leitura. Já estou eliminando a internet que é um vampiro de tempo, quando você se dá conta está lendo comentário até de quem não conhece.
    Adoro este blog.

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  9. Tem razão, Rose. Também tenho que colocar a internet no seu devido lugar... Isso aqui é mesmo um "vampiro de tempo" (gostei dessa imagem, bem à la Mia Couto... rsrsrs). Abs!

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  10. Rita - no último livro do Mia Couto "Estórias Abensonhadas" há uma expressão dele que adorei e vou adotar: "síndrome da humanodeficiência adquirida". Infelizmente presente em muitos lugares!
    Beijos! Cris

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