Termino a leitura de Lolita aliviada. Saí de uma náusea
intermitente sem precisar vomitar, e isso não é uma crítica. O livro é
magistralmente escrito e transmite ao leitor cada sensação impressa, letra por
letra.
Para mim, foi difícil. Sempre tive a busca do entendimento
como fim e, embora hoje faça uma força danada para não precisar compreender
tudo que leio, que vivo ou tenho informação, sei que muitos e muitos degraus
estão à minha frente. Então, não captando o comportamento de um psicopata, de
um pedófilo, de um maníaco, é bem intragável ler sua busca incessante por um
prazer tão intenso quanto efêmero.
Ao mesmo tempo é um exercício de paciência, de
compartilhamento da dor - alheia por acaso e circunstância - de transposição de
barreiras, de superação de preconceitos, de ampliação de horizontes. É um exercício
de vida.
Louvo, ademais, a coragem do autor em não usar um pseudônimo
para sua obra-filha, digo, obra-prima. Ele bem que pensou nisso, mas assumiu o
que milhares de pessoas certamente criticaram sem dó alguma. Superou a recusa
de inúmeras editoras para depois receber uma tempestade de adjetivos imundos. Mas,
como de outra forma enfrentar nossos piores medos?
O escritor espia seus medos
ResponderExcluirarranca da alma sutilezas
e por vezes expõe segredos
que de si próprio sangram vilezas.
Verdade ou invenção tanto faz:
do mesmo jeito causa estupor
quando sua obra é capaz
de singrar as veias do leitor.
Vai, vai sim, escritor
ferir todas as suscetibilidades.
Iluminar onde se esconde a dor
é a sua responsabilidade.
Parafraseando Ancelmo Gois, "Ilumina eu". Beijinhos doces, escritor.
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