sábado, 14 de agosto de 2010

O QUE É LIBERDADE?


Atendendo à sugestão da minha ferrenha leitora, incentivadora, comentarista e amiga também blogueira, Rosemary Timpone, vou falar um pouco sobre liberdade. Começo com uma frase de John Waters, cineasta e escritor, que achei sui generis.

 “Hoje todo gay quer casar. Quando eu era jovem, ser gay significava comemorar a liberdade de não ter filhos, não entrar no Exército por livre e espontânea vontade e não precisar casar”.

Como as coisas mudam com o tempo, não é mesmo? A noção de liberdade também. Eu acho que ser livre passa sobretudo por se sentir livre dentro de nós mesmos, capazes de fazer escolhas que podem e com certeza desagradarão alguns, mas que são escolhas nossas, pessoais, são a nossa marca, aquilo que nos diferencia.

É claro que, como ser social, essa liberdade também não é total, quero dizer, existe um código ao qual devemos todos nos submeter para não sermos alijados ou marginalizados. Não podemos matar, roubar, estuprar, cometer incesto e todas as outras ações concebidas aqui como crimes, por exemplo. São conceitos do nosso mundo ocidental e capitalista. Em outro tipo de organização social a coisa mudaria de figura, mas voltemos ao conceito de liberdade.

No passado, aqui no Brasil, muitos casamentos eram arranjados, os noivos sequer se conheciam. Hoje, depois de anos de convivência, muitos descobrem que também não se conheciam, mas aí já é outra coisa. Também no passado, como bem expressou Waters, os gays, assim como os hippies, eram símbolos de liberdade, de escolhas pessoais que não precisavam se enquadrar nas regras obsoletas e hipócritas ditadas pela sociedade. As drogas também ocuparam esse papel e vários músicos célebres. Elwis não morreu, os Beatles tão pouco. O povo reverencia quem, em sua época, no seu contexto, se rebela e diz um basta ao sistemão opressor.

Na política, o caminho foi parecido. Mais de 20 anos de ditadura para depois conhecermos a democracia, através de luta, insurgência, articulação. Isso também é liberdade.

Mas, felizmente, como o homem sempre tenta evoluir e crescer em seus conceitos, estamos ainda em busca da liberdade, e essa busca já é em si um exercício libertário. Queremos agora uma liberdade que venha com aceitação, sem pré-julgamentos, como inclusão social, para usar um termo da nossa época.

Este blog é um exemplozinho dessa liberdade, no caso de expressão, da minha verdade. E para você, o que é liberdade?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um filme pra entrar na lista: ‘Uma noite em 67’

Hoje quero falar de amenidades. Fui ver “Uma noite em 67” e voltei maravilhada. Que filme bonito. Como na época eu era muito pequetitinha, não me lembro de nada, claro, mas os artistas e cantores ainda são destaque na MPB de hoje, e isso é o que torna o filme atual.

De um lado, o clima tenso, divertido e surpreendente de um festival de canções inéditas. De outro, poder assistir às entrevistas com Chico, Caetano, Gil, Edu Lobo, Roberto Carlos, Nelson Motta, Sergio Cabral (o pai, é claro), com depoimentos engraçados, lembranças marcantes e revelações hilárias foi super. O passado e o presente contrapostos. Uma linha do tempo singular num musical documentário de primeira.

Gente, e como evoluímos na qualidade da reprodução do som e imagem nestes 40 anos. Assim é que damos valor à tecnologia. Senti saudades de não ver a Elis, mas quem sabe eles fazem uma noite em um outro ano da década de sessenta de cujo festival ela tenha participado. Fica a sugestão. Se eu fosse crítica de cinema, recomendaria sem susto. Acho que a geração próxima dos 40, 50 anos vai gostar e muito.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Só Hitler é que não pode?

Diz a música da Legião Urbana:

Meu filho vai ter
Nome de santo
Uummhum!
Quero o nome mais bonito


Eu também. Quando meus filhos nasceram, procurei caprichar nos nomes, escolher o significado, esse tipo de coisa. Agora me deparo com o casal de americanos que nomeou um rebento de Adolf Hitler e os outros dois também com nomes nazistas menos conhecidos. Eu já sabia que os americanos são bem problemáticos, e sabe-se lá que razão esdrúxula levou os pais a isso, mas daí a tirar-lhes a guarda dos três e entregá-los para orfanatos vai uma grande distância. Não se poderia mudar a graça das crianças e fazer uma terapia de família para investigar as causas dessa sandice? Ou submeter os pais a acompanhamento com o serviço social? Sei lá, outras soluções menos drásticas. Até porque, se o interesse alegado é o bem estar dos menores, o orfanato é a melhor alternativa? E mais, se o pai conseguiu registrar as crianças é porque não havia na lei americana algo que impedisse essa prática, certo?  Então a punição não é desmedida?

Acho que o Hitler realmente foi o fim da picada, mas os americanos, quando jogaram a bomba em Hiroshima e logo depois em Nagasaki, também não ficaram para trás. Uma coisa é mostrar poderio, força, ameaçar, outra é repetir a dose e matar de uma só tacada mais de 70 mil pessoas diretamente, sem contar nas gerações doentes que se seguiram. Nas duas cidades, mais de 200 mil mortos, em sua maioria civis, sem ao menos um pedido de desculpas americano. E depois o Vietnã, o Iraque, o Afeganistão e continua a lista. Aí eu pergunto. Foi só o Hitler? Ou devemos também proibir os nomes de Harry Truman, Eisenhower, George Bush, etc, etc, etc? Não vai ter espaço nos orfanatos.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Reduzir o índice de violência contra a mulher depende da própria

Amanhã se comemora o 4ª aniversário da Lei Maria da Penha, que aumenta o rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. Uma coisa boa, mas eu fico pensando: como é que tantas mulheres convivem com a violência quase diária de seus companheiros e continuam morando com eles? Que ausência de auto-estima é essa? O que justifica esse masoquismo?

Lembrei de uma empregada doméstica que tive e que faltou ao trabalho três vezes e na última me confidenciou que o marido batia nela. Mostrou as marcas roxas no peito, o ouvido dela inchado do tapão, o chute na barriga. Eu fiquei horrorizada, disse que ela tinha que denunciar o marido imediatamente e sair de casa, mas ela falou que gostava dele e que ele só fazia isso quando bebia. Foge a minha compreensão um amor assim. Contra essa cegueira e ignorância, não há lei que dê jeito, você não acha?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pastor da Universal é carreira com concurso e tudo, e paga bem

Gente, falar de futebol, política e religião é briga na certa, né? Eu queria ficar quieta, mas não dá. Veja em que mundo estamos. A Igreja Universal está abrindo concurso para pastor. Salário inicial de R$ 8 mil + benefícios. O que vc acha disso?
Leia a matéria completa acessando o link http//guiame.com.br/v4/53963-1692-Igreja-Universal-abrir-concurso-para-pastor-sal-rio-inicial-de-R-8-mil.html

Porque detesto política

Tinha programado falar de outra coisa, mas as notícias do jornal de hoje me deixaram horrorizadas. Tenho que desabafar.

1ª: O ministro do STJ e o ex-vice-presidente do Tribunal Regional Federal, acusados de VENDER SENTENÇAS para a máfia dos caça-níqueis, processados pelo STF por corrupção e prevaricação, foram condenados pelo Conselho Nacional de Justiça com a pena mais alta. Sabe qual? Aposentadoria compulsória, que no caso dos ditos cujos representa cerca de R$ 25.000/mês, o salário integral dos (in)felizes porque já tinham 35 anos de contribuição. Eu tô maluca ou isso jamais seria uma punição? Em cinco anos o CNJ já aposentou compulsoriamente mais de 15. Que beleza. Esse é o exemplo que o Conselho Nacional de Justiça nos dá. Tramitam no congresso, sem data para votação, emendas que acabariam com a aposentadoria com proventos. Vc imagina a pressa que eles têm pra votar essa questão, né?

2ª:A prefeitura do Rio tem uma dívida com a União de aprox. R$ 6,76 bilhões a ser quitada até 2029, pagando juros mensais, é claro. Sabe o que ela vai fazer para ‘economizar’? Pegar um empréstimo com o Banco Mundial de R$ 1,9 bilhão. Diz que com isso economizará R$ 400 milhões/ano com juros, trocando 9% de juros cobrados pelo governo contra 6% de juros cobrados pelo Bird e aumentando o período de quitação da dívida até 2040. Meu Deus, é provável que meus bisnetos ainda tenham essa dívida nas costas. Tem mais: além do absurdo da situação em si, o Bird para conceder o empréstimo fez outras exigências. Uma delas, cláusula do contrato, é aumentar a idade mínima para a aposentadoria dos professores. Outra é construir escolas de ensino fundamental em favelas em áreas de conflito. Só esqueceram de mandar a mãe do Eduardo Paes ser professora, ganhar pouco, submeter-se ao medo da violência, assaltos, bala perdida etc e ainda com aposentadoria mais longa. O que é isso? Algum advogado poderia me dizer se isso é legal, uma exigência contratual suplantar um direito adquirido do trabalhador?

3ª: Em Salvador, uma rua da periferia foi batizada com o nome de um falecido jornalista, conhecido por defender o assassinato de homossexuais. Suas frases famosas: ‘Mantenha a cidade limpa, mate uma bicha todo dia’ e ‘Matar veados não é homicídio, é caçada’. Alguém me explica como uma pessoa assim, ao invés de ser presa, e ele próprio deveria ser um gay enrustido, porque só os não assumidos têm uma revolta inexplicável dessas (Freud, você explica?) ainda é homenageado??? A galera lá ta protestando. Eu apoio.

Em tempo: Apoio também poder declarar como dependente no IR companheiro homossexual, e casamento gay idem. Por que as pessoas se metem nas opções sexuais dos outros? Que atraso. Vai trepar que é mais gostoso!

domingo, 1 de agosto de 2010

Preconceito até no enterro dos mortos

Li hoje no Globo um artigo que me deixou fula. Uma ‘coleguinha’ jornalista, moradora da zona sul carioca e pegando carona na popularidade da Cissa Guimarães, contou sua história triste de ter ido a três enterros na mesma semana como pano de fundo para falar das mazelas do São João Batista. Até aí, tudo bem. Ela disse que o cemitério está largado às baratas, ou melhor, aos ratos, os animais e os homens larápios. Até aí, normal, quer dizer, anormal, mas uma crítica justa e procedente.

Até que, de repente, ela dá o motivo pelo qual isso é um absurdo. A família dela tem um mausoléu lá, assim como a família de muitas pessoas importantes, autoridades inclusive, que descansarão o sono dos ‘justos’ em Botafogo. Então, é lógico, segundo ela, que as autoridades em vida façam alguma coisa para salvar o cemitério que lhes servirá de morada.

Gente, já enterrei meu pai, minha tia, meus avós, primos, tios e realmente concordo que o cemitério deveria ser mais digno, limpo, seguro, um ambiente onde a gente pudesse sentir algum tipo de conforto espiritual. Mas isso, creio eu, não porque ali jaz esse ou aquele tipo de pessoa, simplesmente porque todo ser humano merece respeito e dignidade, e não só, e às vezes inclusive muito menos, as autoridades ou a elite ou os famosos.

Ainda me choca essa gente que se acha porque mora ali ou porque conhece fulano ou porque já dormiu com sicrano. ‘Do pó viemos, e ao pó voltaremos’, é uma verdade inexorável, válida para toda a humanidade, ‘coleguinha’, e não apenas para os bem nascidos ou para os bem ‘morridos’. Ah, e só para te dar uma luz, que já deu pra perceber que você está nas trevas da ignorância e do preconceito, o São João Batista é administrado pela Santa Casa da Misericórdia, uma entidade particular, que se diz filantrópica.