domingo, 1 de agosto de 2010

Preconceito até no enterro dos mortos

Li hoje no Globo um artigo que me deixou fula. Uma ‘coleguinha’ jornalista, moradora da zona sul carioca e pegando carona na popularidade da Cissa Guimarães, contou sua história triste de ter ido a três enterros na mesma semana como pano de fundo para falar das mazelas do São João Batista. Até aí, tudo bem. Ela disse que o cemitério está largado às baratas, ou melhor, aos ratos, os animais e os homens larápios. Até aí, normal, quer dizer, anormal, mas uma crítica justa e procedente.

Até que, de repente, ela dá o motivo pelo qual isso é um absurdo. A família dela tem um mausoléu lá, assim como a família de muitas pessoas importantes, autoridades inclusive, que descansarão o sono dos ‘justos’ em Botafogo. Então, é lógico, segundo ela, que as autoridades em vida façam alguma coisa para salvar o cemitério que lhes servirá de morada.

Gente, já enterrei meu pai, minha tia, meus avós, primos, tios e realmente concordo que o cemitério deveria ser mais digno, limpo, seguro, um ambiente onde a gente pudesse sentir algum tipo de conforto espiritual. Mas isso, creio eu, não porque ali jaz esse ou aquele tipo de pessoa, simplesmente porque todo ser humano merece respeito e dignidade, e não só, e às vezes inclusive muito menos, as autoridades ou a elite ou os famosos.

Ainda me choca essa gente que se acha porque mora ali ou porque conhece fulano ou porque já dormiu com sicrano. ‘Do pó viemos, e ao pó voltaremos’, é uma verdade inexorável, válida para toda a humanidade, ‘coleguinha’, e não apenas para os bem nascidos ou para os bem ‘morridos’. Ah, e só para te dar uma luz, que já deu pra perceber que você está nas trevas da ignorância e do preconceito, o São João Batista é administrado pela Santa Casa da Misericórdia, uma entidade particular, que se diz filantrópica.

11 comentários:

  1. Esses e outros preconceitos escorrem pelas páginas de certa imprensa e aqueles que usam sua pena (ou seu teclado, em nossos dias) para propagá-los na maior parte das vezes nem percebem as baboseiras que estão escrevendo. São tapados demais - e o pior é que "se acham". São uma escória. É por isso que esses jornais cada vez mais só servem mesmo é para embrulhar o peixe. Isso se o peixe, mesmo morto, não reclamar!

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  2. Estive recentemente no São João Batista e o cemitério também serve de passagem para a comunidade. No meio do enterro não conseguia entender o trânsito de várias pessoas e crianças com uniforme de escola municipal atravessando uma via do cemitério, e aí me disseram que a passagem era usada para chegar na comunidade.

    Já que você falou em pó, gostaria de levantar aqui a questão da cremação. O que era pouco usado a cada dia se torna mais popular, e o pior, é que as pessoas pedem que as cinzas sejam jogadas no mar, no jardim, e onde mais pode ir a imaginação do defunto. Eu acho que isso é crime ambiental, você já pensou se todo mundo resolve juntas as cinzas por aí? Já pensou comer uma fruta adubada com os ossos da vovó?

    Quanto às pessoas que se acham melhor do que as outras pessoas, as que pensam que estão "sozinhas no mundo" são mesmo abomináveis.

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  3. "Numa reação química a massa se conserva porque não ocorre criação nem destruição de átomos. Os átomos são conservados, eles apenas se rearranjam. Os agregados atômicos dos reagentes são desfeitos e novos agregados atômicos são formados".

    Essa é a famosa lei de Lavoisier, mais conhecida na simplificação:

    "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

    Acho que se as cinzas de nossos vovôs e vovós servirem de adubo para plantas, este é um uso mais nobre do que apodrecer dentro de um caixão virando comida de vermes.

    Quanto ao post, não é nenhuma surpresa a constatação de que quanto mais afortunado mais se olha pro próprio umbigo, o incrível é a falta de bom senso da pessoa em nem ao menos tentar esconder suas visões preconceituosas em um jornal de escala nacional.

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  4. Eu acho q. não é mal pra natureza receber umas cinzinhas. Bem melhor que as dos milhares de fumantes.Precisa ver se o estatuto ambiental (temos um, não?) fala no assunto. Tb concordo com o Felipe que seria um uso, digamos assim, mais nobre.

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  5. Estatuto Ambiental??? Não, não temos!!! Boa ideia!!! No mais, esse negócio de cemitério devia era tudo acabar. Quantas moradias populares - para os vivos - não se poderia construir nessas áreas imensas? Reforma Agrária nos cemitérios JÁ !!!!!!!!!!!!

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  6. Isso aqui é muito divertido. A jornalista preconceituosa nem se dá conta que é politicamente incorreta. Ela acha normal. Pode coisa pior? Agora quem dá trabalho para ela? Tem uns trabalhos molezinha, o meu é monótono e não posso usar minha criatividade. Estou com vontade de ingressar na carreira de Reengenharia, será que dá certo?

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  7. Em pensar que eu vi Felipe pequeno, indo para escolinha e agora.... discutindo lei de Lavoisier. Agora quero que me diga quem é o autor da lei "neste mundo nada se cria, tudo se copia", e não pode dizer que é a lei de Gerson.
    Eu concordo que cremar é mais higiênico, mas não concordo de não ter um ESTATUTO regulamentando onde jogar as cinzas. Não me conformo de ter um estatuto para o torcedor e não ter estatuto para outras coisas tão necessárias.

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  8. A vida é isso, injusta, mas bela porque assim podemos buscar a justiça. E o Estatuto pode e deve sair sim, comecemos um movimento!

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  9. Caro anônimo, eu acho que quando a gente tá de saco cheio, nada melhor que uma guinada. Reengenharia me parece fascinante, pelo menos o nome. Tentar ter um olhar para a vida sem paradigmas, sem conceitos pré-estabelecidos, só o exercício já vale a pena. Tem a minha torcida.

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  10. A do Pablo Picasso é melhor ainda: "Bons artistas copiam, grandes artistas roubam."

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  11. Caramba, esse papo de morto e de cemitério deu pano pra manga... Altas filosofias! Pelo visto, a coisa vai num crescendo: Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto da Terceira Idade e agora o Estatuto do Defunto. Considerando que o mundo deu tudo (de bom e de ruim) ao ser que morreu, acho que esse Estatuto do Além devia estabelecer a doação COMPULSÓRIA de órgãos, todos eles. Seria uma retribuição do ex-vivo ao mundo que tanto lhe deu. A pessoa ser enterrada inteira, sem doar nada, e ainda ocupar espaço em cemitério eu acho um contrassenso, um egoismo extremo e sobretudo uma falta de consciência com o bem dos semelhantes. Pessoas poderiam passar a enxergar, poderiam parar de sofrer e receber mais rapidamente transplantes de rim, fígado, etc... A ordem não é reciclar??? Por que deixar um corpo apodrecer? Aquele corpo NÃO É MAIS a pessoa que amamos em vida. Vamos aceitar essa verdade incontestável! "Amai seus semelhantes"... Doação compulsória já. A religião e seus dogmas não podem se sobrepor ao bem-estar geral. É a mesma história de pais "Testemunhas de Jeová" que tentam impedir uma transfusão de sangue que salvaria a vida de um filho menor. A lei já tirou deles esse "direito". A religião (qualquer uma) não pode se sobrepor à vida. Vamos homenagear nossos mortos fazendo-os úteis ao mundo até após a morte.

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