Estarrecedor, absurdo, criminoso. São adjetivos que me vêm à mente quando leio o tratamento que está sendo dado a homossexuais na África. E, como vivemos em plena era da globalização, onde a distância está a um clique de nós, esse retrocesso indesculpável importa e muito.
Excetuando a África do Sul, único país do continente onde os relacionamentos homo são legalizados, e alguns poucos países sem legislação específica, todo o restante da África é não apenas homofóbico como ainda sujeita quem assume sua preferência sexual a sanções e até à pena de morte. Isto em pleno século XXI.
Se no passado a religião era usada como desculpa para apoiar o repúdio às uniões homo, hoje, além do uso religioso continuar justificando inúmeras formas de tirania e opressão, é o governo quem aparece como vilão, legitimando o barbarismo. Incutir medo e cercear a liberdade, em suas várias formas, sem dúvida facilitam a manipulação de uma sociedade e a perpetuação dos interesses de seus governantes. Mas, ainda assim, não consigo entender essa ira, esse preconceito nojento por uma decisão que é individual. Como podem as pessoas se sentirem ofendidas se a opção sexual de A ou B é diferente da sua? Isso não é cultural, antropologicamente falando, e nem animal pois que os tachados de irracionais não apresentam esse comportamento hediondo. Sei lá o que é, mas é preciso o nosso repúdio mais vigoroso e veemente.
O quadro na África, segundo o Jornal O Globo de 16/02/2014
Atos homossexuais proibidos em: Marrocos, Argélia, Líbia, Tunísia, Egito, Guiné, Senegal, Angola, Namíbia, Botsuana, Zimbábue, Moçambique, Malauí, Tanzânia, Burundi, Quênia, Etiópia e Sudão do Sul.
Além de proibidos, punidos com pena de morte em: Mauritânia, parte da Nigéria, Sudão e Somália.
Em andamento leis que criminalizam atos homossexuais: Rep. Centro-Africana e Uganda.
Coisas que afetam nossa vida cotidiana, sentimentos, sensações, pensamentos, filosofia, partilhar tudo isso
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Ninfomaníaca: uma mulher insaciável?
Gosto de polêmicas. Acho que tendemos a aprender e a engrandecer
com o controverso. Também sou curiosa e ultimamente tenho revisitado minhas
posições a respeito do sexo. Então fui assistir à “Ninfomaníaca”, que conseguiu
a proeza de bonequinhos aplaudindo,
olhando e indo embora. Devo dizer que amei, um filmaço. Com certeza verei o
volume II e guardarei o nome de Lars von Trier ao lado de Almodovar, Quentin Tarantino, Woody Allen e outros que adoro.
Para não ser ‘spoiler’, pouparei vocês de uma sinopse, mas
gostaria de ponderar alguns aspectos:
- se há cenas de sexo explícito? Com certeza, mas isso aí
você faz, já fez ou sabe muito bem o que é, então por que se chocar?
- tente ver pelos olhos da protagonista. Enxergue além do óbvio
que sempre querem esfregar na nossa cara que é para não vermos mais nada.
Refute esta mesmice, afaste-se e aí entre no intrincado novelo emocional da
ninfo.
- permita-se questionar-se a respeito da virgindade, da prática
sexual com vários parceiros, dos significados ocultos entre o prazer e a dor.
Deixe o preconceito na porta do cinema e divirta-se!
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Conto classificado na Antologia UFF 2013: Meu encontro
Amigos, compartilho com vocês a alegria que tive ontem, 17/12/2013, durante a cerimônia de premiação e lançamento da Antologia do Prêmio UFF de Literatura 2013, cujo tema, em homenagem a Vinicius de Moraes, foi "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida".
O evento aconteceu no auditório da Academia Fluminense de Letras, na Biblioteca Nacional de Niterói. Abaixo vocês podem ver a foto do grupão que integra a Antologia e a foto dos seis membros do Clube de Leitura Icaraí, do qual participo com muito orgulho, todos classificados.
E agora, deixo com vocês o meu conto. Quem desejar ler os demais textos premiados pode acessar o blog do Clube de Leitura.
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/
Abraços,
Rita
O evento aconteceu no auditório da Academia Fluminense de Letras, na Biblioteca Nacional de Niterói. Abaixo vocês podem ver a foto do grupão que integra a Antologia e a foto dos seis membros do Clube de Leitura Icaraí, do qual participo com muito orgulho, todos classificados.
![]() |
A partir da esquerda: Luiz, Newton, Winter, Rita, Benites e Benito |
E agora, deixo com vocês o meu conto. Quem desejar ler os demais textos premiados pode acessar o blog do Clube de Leitura.
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/
Abraços,
Rita
MEU ENCONTRO
Éramos dez. Achei que seríamos um grupo
ainda menor. Confesso que, antes de entrar, pensei várias e várias vezes, perdi
o sono, tive muita vergonha, mas enfim, resolvi tirar minhas lentes de contato
- não tanto porque não posso enxergar bem os demais, mas porque não posso ter
certeza da fisionomia deles quando me vêem. E assim consegui a coragem para
comparecer, um pouco menos desconfortável, só um pouco.
Na recepção nos indicaram o local do
vestuário. Cada um que entrava se dirigia para lá, onde, no nosso armário, um
roupão atoalhado cor bege esperava, dobradinho. Sentamos em círculo com uma
cadeira no meio, a do mediador. Quando a moça da recepção avisou que todos os
participantes estavam presentes, o mediador levantou-se, trancou a porta,
dirigiu-se para a lateral da sua cadeira, tirou o roupão e ficou em pé no meio
de nós, inteiramente como veio ao mundo, para explicar o método, melhor
dizendo, a experiência.
Não sei se alguém prestou atenção, eu
não consegui. Mesmo sem a minha lente eu ia vendo uma coisa balançando à medida
que ele falava e me desconcentrei. Comecei a suar, senti o rosto quente, acho
que viajei.
D. Lorena, d. Lorena, a senhora
entendeu? Agora todos precisam tirar o roupão. Podem ficar com ele sobre a
cadeira mesmo e sentar em cima. É até bom que protege.
Siim, eu disse meio gaguejando e com a
voz rouca – sempre que fico nervosa minha voz começa a sumir. Esse homem é um
louco, pensei. Protege? Protege? Que é isso? Nunca me senti tão desprotegida. Olhei
ao redor e todos já tinham se livrado de suas vestimentas. Quatro homens e seis
mulheres. Meu Deus, como é que eu vim parar aqui? Desembaracei-me daquele
cordão na altura da cintura desfazendo o meio nó, movi os braços para tirar as
mangas sem me levantar, o roupão ficou preso, tive que levantar um pouquinho,
que constrangimento! Olhei para baixo, ai que vergonha! Ainda por cima fiquei
toda arrepiada - era de frio, mas vai que alguém pensasse diferente... minha
nossa senhora, valei-me.
***
O mediador - eu não gravei o nome dele
ainda -, sentou-se e pediu que nos apresentássemos e contássemos nossa
experiência prévia em tratamentos anteriores. Pediu que o senhor careca
começasse.
Essa deve ser minha décima tentativa.
Já tentei nutricionista, endocrinologista, ortomolecular, mas o problema sempre
volta. Emagrecer eu emagreço, mas não consigo manter. Depois de dois meses
começo a engordar tudo de novo e mais ainda.
A seguir veio a moça que estava ao meu
lado – eu seria a próxima e já comecei a gelar -, ela disse que tinha ido a
médicos, usado produtos naturais, tomado vários tipos de chás e também
engordava tudo de novo pouco tempo depois.
Eu? Bem,
como os colegas, fiz inúmeras tentativas. Além de médicos, tentei a dieta
Dukan, a mediterrrânea, a de 600 calorias, fiz caminhadas e ginástica. Tive bom
resultado em algumas vezes, mas com o tempo...
A dança das cadeiras continuou. Havia
entre nós até um senhor que já tinha feito cirurgia bariátrica, aquela que
reduz estômago, sabe? e mesmo assim engordou de novo, porque tinha compulsão
por leite condensado e bebia direto da latinha toda vez que sentia fome.
Na segunda rodada de perguntas tipo
‘integração’, como chamou Danilo - acho que esse é o nome dele, me recordo
agora -, a questão foi porque resolvemos aderir à experiência.
Na vez da minha resposta, o grupo riu
pela primeira vez - precisávamos mesmo de um pouco de descontração, ufa! -, e eu
só respondi a verdade: desespero.
Após a saraivada de comentários que no
fundo diziam mais ou menos isso, Danilo começou a falar. Levantou-se de novo,
foi até o ‘flip chart’ e desenhou um rosto desconjuntado de um corpo. O rosto
era redondo e o corpo, obeso, disforme e assexuado.
Esse, senhores, fui eu, ele disse. Esse,
senhores, são vocês hoje. Alguém discorda?
Ninguém falou coisa alguma. Danilo
então nos contou de sua formação em psiquiatria e psicologia e que é sabido em
todo o meio médico que em um grande número das pessoas que engorda e tem
dificuldades para controlar o peso, a causa é emocional, excetuando os problemas
na tireoide e outras raras enfermidades. Mas que não convém a tantas
especialidades médicas e nichos de mercado abertos com o filão da obesidade
divulgar isso. Trata-se o efeito e não a causa, daí o método atual ser
inovador, ele disse.
Continuou explicando que optaram por
uma abordagem não ortodoxa, “não vamos indicar sessões de psicologia para ninguém”
por acreditarem que o resultado seria muito mais rápido. Eu deixei a reunião
com dor de cabeça, nunca pensei que vergonha desse enxaqueca, mas enfim, ao
menos permanecia viva.
***
Em casa me esmerei ao máximo na
ingestão de poucas calorias, comprei peixes, fiz legumes ao vapor, caminhei a
semana quase toda, fugi dos doces como o diabo da cruz. No encontro nudista da
semana seguinte, digo, no encontro para emagrecer, eu tinha perdido dois
quilos. Quase todos os companheiros de opróbrio
também foram vitoriosos e aos poucos íamos deixando, junto com os quilos a
mais, a timidez.
Falávamos de nossos
sentimentos durante a semana, do que nos motivava a continuar prestando atenção
à alimentação, aos exercícios. Vomitávamos sapos, derramávamos hipócritos
conceitos, chutávamos o balde mesmo, como se diz. O olhar do outro ali sempre
tinha um grande peso, mas esse era incrivelmente leve e só nos ajudava nas
balanças, tanto na física quanto na emocional.
De minha parte, o que eu
queria era parecer melhor e mais agradável aos colegas e a mim mesma. Mudava
por dentro para transparecer por fora. Em casa sentiam a diferença. Minha forma
de tratar a família era outra, o tom crítico dava lugar a uma abordagem mais
compreensiva. A assertividade das colocações aumentava no trabalho também e a
descontração com os amigos era evidente. Mudei as cores das minhas roupas, meu
estilo, cortei o cabelo, caprichei nas unhas. Queria refletir o novo eu que
estava reconstruindo.
Ao cabo de três meses de
programa nosso incentivador mor, no início do encontro, fez outro desenho no
quadro. Era um rosto com um corpo; não
tinha nada de atlético, mas era uno. Muitos sorrisos iluminaram aquela reunião.
Sabíamos que, na realidade, o tratamento ia muito além do corpo, o foco era a
auto-estima, mas, que importa? Ela estava lá no alto mesmo.
***
Fiquei no programa durante uns sete ou oito
meses. Saí de lá com o que a ciência diz ser a faixa recomendável para minha idade,
altura e sexo, mas isso nem de longe foi o principal. Eu agora me gostava,
estava feliz e confiante. Não que eu ache que os obesos tenham problemas com a
felicidade, cada um com seu cada um, com seus parâmetros e seus conceitos, mas,
admito, eu tinha. Aliás, eu e todos os que estavam naquele grupo. Isso descobrimos
depois, quer dizer, nosso mediador nos contou que o critério usado para selecionar
o grupo-teste incluía os que já tinham feito várias tentativas de emagrecer sem
sucesso e se sentiam mal com isso. Eu superei o medo de me encarar desnuda e
sei onde estão cada uma das minhas muitas máscaras. Só que eu, eu não preciso
mais delas.
Três anos já se passaram. Sim, se você
quer saber, continuo magra. Fome? Normal, quer dizer, até hoje de manhã, quando
li no jornal a seguinte manchete, título e subtítulo: Charlatão vende filmes com obesos nus. Falso psicólogo prometia método inovador de emagrecimento. E na
matéria, minha foto, eu ali, nuzinha em pelo, só com um quadradinho disfarçando
meu rosto. Alguém me compre um
chocolate, URGENTE!
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Sexualidade teen: como encarar?
Este
texto é um perigo, um perigo para mim mesma que tenho que me defrontar com os
novos conceitos sobre sexualidade a esta altura da vida. Ah, ser mãe, às vezes,
é mesmo padecer, só que sem paraíso.
Comecemos
pelo mais ameno. Vejo, com certo estarrecimento, que a França se divide sobre
um projeto de lei que quer multar clientes de prostitutas e com isso volta toda
uma discussão sobre prostituição e promiscuidade. O que me chocou na notícia
foi, primeiramente, o sutiã (termo jornalístico que se refere a um sobretítulo, em oposição a subtítulo e,
aliás, muito próprio à natureza da matéria, rsrsrs): moralismo ou drama
sanitário?
Nossa,
acho incrível que no século XXI, no ocidente, especificamente no país de De
Gaulle e no Brasil, ainda se usem um termo tão preconceituoso como ‘drama
sanitário’ ligado ao mercado sexual. Isso continua amedrontando? Como a elites
reproduzem arcaicos conceitos e lançam mão de qualquer coisa para fazer valer
seus valores parentes da eugenia. Eca!
Dito
isto, entremos no meandro da questão. Falar é uma coisa, fazer ...
Em
conversa com meu companheiro de trocas de ideias a respeito, e pai, ele me
disse que chega à nossa era o que pregavam os hippies, sexo livre, geração paz
e amor (mais amor do que paz, cá pra nós) - isso por conta de um programa que
eu, por acaso zapeando, vi no Discovery Home and Health. Isso é healthy? foi
logo o que pensei ao ver do que se tratava.
Bem,
continuemos. Na Grã-Bretanha, os adolescentes contam com um serviço gratuito
para tirar dúvidas de cunho sexual ou erótico. Em resumo é isso. E acompanhei algumas
dessas dúvidas. Coisas do tipo ‘como posso fazer sexo oral melhor no meu
namorado’ ou ‘acho que meu pênis é pequeno e isso me inibe de procurar os
rapazes’ ou ‘minha vagina é feia demais e tenho medo de transar por conta
dela’, ou ainda ‘meu namorado não me procura como antes. O que posso fazer para
excitá-lo’. Na equipe do programa, uma psicóloga, uma ginecologista e ‘técnicas
em prazer’, na ausência de nome mais propício. Tudo falado abertamente, sem o
menor constrangimento ou moralismo. Apenas, quando uma teen destas disse que
fazia sexo em locais públicos, o psicólogo com o qual ela falou retrucou que é
preciso se ater às leis. Porém, não sendo ilegal...
Fiquei
ali, pasmada, me sentindo completamente ultrapassada e questionando meu papel
de mãe de duas adolescentes nesta realidade quase mundial.
Sim,
porque o exemplo que vem dos britânicos apenas comprova o que tenho observado
em conversas diversas com outras mães tupis-guaranis como eu, em notícias na
imprensa e na internet em
geral. Muitos adolescentes, especialmente as meninas, estão
com uma postura radicalmente diferente sobre o sexo. Enviam fotos suas nuas ou
transando, experimentam sexo com o masculino, o feminino, o ambíguo, de tudo um
pouco. Há quem chame de sexo flex. Para conhecer, para decidir, para liberar-se?
Não sei
bem até onde vale a experiência e quais podem ser as consequências, mas casos
de suicídio foram relatados, meninas que tiraram a vida após terem fotos
íntimas reveladas no face com comentários pra lá de picantes por ex-namorados e
curtidores de ocasião.
Não quero
ser retrógrada, machista, preconceituosa, mas tampouco sigo como vaca de
presépio modas impulsionadas pelos modernos recursos tecnológicos. Preocupa-me,
sobretudo, a sanidade mental de minhas meninas, mas não sei se é isso mesmo ou
se, hipocritamente, estou é usando de desculpas para manter a máxima de que a
mulher deve se dar ao respeito quando o próprio conceito de respeito é tão
fluido e manipulado. Não à promiscuidade, sim ao recato, isso aí me cheira à
bandeira da Marcha da família em março de 64.
Quando
mocinha, eu desafiava meu pai questionando conceitos sobre virgindade,
liberdade. Não queria nesta fase da vida cantar como Cazuza que
“
aquele garoto que ia mudar o mundo frequenta agora as festas do "Grand
Monde",
mas
ideologia, eu quero
uma pra viver, e alguma ajuda também.
sábado, 30 de novembro de 2013
É inspirador ler Mia Couto, sempre
Lembro de
ter lido, há alguns anos, que uma rica modelo e atriz americana disse que
quando criança pensava que todos viviam em mansões. Que coisa!,
pensei preconceituosamente, tinha que ser americana para viver tão fora da
realidade. Hoje, feliz roda do tempo, leio que “Eu
pensava que todo mundo quando ficava adulto virava automaticamente poeta”,
fragmento de mais uma bela entrevista de meu querido escritor Mia Couto.
Que visão fragmentada do mundo temos quando crianças e como
nossos cacos podem virar mosaicos na vida
adulta, seja lá o que isso for. Continuamos com nossas visões limitadíssimas,
ao que a mídia deixa e quer passar, ao que interessa ou não que pensemos que
sabemos, mas essa discussão mais política e desanimadora não quero que venha
atrapalhar meu momento poético de sábado.
É lindo sentir como os africanos vêem o silêncio,
“O
silêncio permite que haja comunicação, não é uma ausência, não é uma pausa
absoluta. Depois, tem essa outra dimensão que é social, do meu lugar. Os
africanos olham o silêncio como uma coisa que não é incomodativa. Às vezes, o
que eu vejo em outros lugares, quando as pessoas estão num grupo e se cria um
silêncio, é que aquilo tem que se resolver, é um vazio. Ali não, o silêncio
está cheio de vozes, não existe nunca. O silêncio não é aquilo que parece, não
é uma ausência.”
É inspirador ler Mia Couto, sempre. Vou refletir sobre o que ele
pensa da busca da identidade. Veja abaixo e me diga se também te instiga.
O
que se passa é o seguinte: essa busca da identidade é um grande assunto para
todos nós. Não é uma coisa literária, não é um assunto filosófico. Temos sempre
de explicar quem somos, e é uma miragem, é sempre uma coisa equivocada. Nunca
somos uma coisa, não temos uma identidade, temos várias, e elas vão mudando com
o tempo, vão mudando com a idade, vão mudando com a relação que a gente tem. Eu
vejo que isso foi uma coisa que no início surgiu dramática em mim próprio.
Tenho que saber quem sou, e eu era um cruzamento de tanta coisa, era um ser de
fronteira, sou um filho de portugueses que nasceu em África e se converteu num
africano. Vivo entre o mundo católico, o mundo dessas outras religiões que não
têm nome, vivo entre o ocidente e o oriente, entre esse mundo de crenças e o
cientista que também sou. Então, de repente, disse para mim: “O que é que eu
sou?”. Parecia que eu tinha que saber, e é um drama não saber. Às vezes, o que
disse a mim próprio e gostaria de dizer aos meus filhos e amigos é que não
sofram, pois, ao contrário, quando souberem, aí sim vocês terão razão para
sofrer. Porque essa área do não saber, essa ignorância, é extremamente fértil,
portanto convivamos bem com isso.
A entrevista completa você lê aqui.
Obrigada, Novaes/ por compartilhá-la.
Obrigada, Novaes/ por compartilhá-la.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
AMOR, AMOR, AMOR
Quero dizer que te amei a vida inteira, mas você fez
sangrar meu coração e agora choro todo dia. Piegas? Careta? Lugar comum? Mas
foi assim mesmo que eu comecei minha cartinha para aquele que eu julgava ser meu
namorado firme. Também, eu só tinha 14 anos, nem sabia o que queria dizer uma
vida inteira. Era tão romântica, ou tão ingênua, ou ambos são a mesma coisa,
nem sei mais.
Naquela época eu gostava de ver novela e dramatizava
tudo. Uma cena que ficou gravadíssima e achei o máximo foi um tapa na cara que
a Regina Duarte deu no namorado dela, quando desconfiou de uma traição, acho
que aconteceu em “Carinhoso”. Queria fazer também e por isso escrevi aquela
bobajada. Não deu outra, ele me ligou e marcamos um encontro no antigo Centro
Comercial de Madureira - lá eu podia ir com a minha prima e meus pais nem
desconfiavam.
Se eu usasse drogas, diriam que naquele dia estava chapada,
pois mal o Reinaldo (nome do infeliz com quem desempenhei meus parcos dotes de
atriz) despontou no corredor do shopinzinho e eu parti em sua direção como uma
fera, sentando-lhe um tapa na cara. Lembro-me do seu olhar incrédulo, esbugalhado,
um olhar que perguntava “essa garota enlouqueceu?” Eu saí correndo, minha prima
atrás, e nunca mais vimos o Reinaldo.
Conto tudo isso porque hoje minha visão do amor é tão
outra... Embora eu não saiba ainda o que é, e portanto definir é impreciso, eu
sei sentir. O corpo inteiro fala comigo: olhos estranhamente congelados
assistem ao mundo se esvair em vontade de ficar junto; maxilares semi-inertes
não sabem mais ruminar ciúmes; estômago delicado baila na dança que o ventre
ensina, digerindo o medo em enzimáticas delícias do viver; mãos e pés em febre
curam minhas chagas; bambeiam pernas, misturam-se os abraços. Eu pareço que vou
desabar, mas é aí que encontro minhas maiores forças. Um beijo demorado entrega
a minha alma enquanto meu sangue fervilha. Ruborizo toda e sou incapaz de
enganar ou disfarçar. Um tapa na cara? Nada mais longe do que é o amor para
mim.
Ah, a juventude, ah o amor.
domingo, 15 de setembro de 2013
Angústia, de Graciliano Ramos
Não provou meu corpo o sabor do mel
atiçou apenas a vida
ferveu meu sangue
e conteve a ebulição.
Prometi o certo
dei o que não tinha
mas foi tudo em vão.
Antes não conhecer amor assim
doente te espiava
seguia a ele
dormir não podia mais
eu, inquieto, só te queria
O algoz do meu peito
traía a ti, Marina minha
sem dó
e tu embuchada
nenhum anel a ornar a mão.
Foi quando seu Ivo me trouxe a corda
“Acorda meu bruto”
briga de monstros
‘despacifico’
a angústia me estrangula
enforco a ditadura do direito
mato o Julião
e agora me sobra a culpa
o medo de vir à tona
verdade sem redenção
Ah Marina, você foi meu fel.
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