domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ser escravo é não desvencilhar-se de preconceitos



Li muito rápido “A ilha sob o mar”, meu primeiro livro (isso é lamentável, D. Rita) de Isabel Allende. Não conseguia largá-lo. Amei, por vários motivos: muito bem escrito, história interessante, fatos históricos que na minha ignorância eu desconhecia e, sobretudo, a visãda injustiça abissal que foi a escravidão.

Ora, me dirão vocês, descobriu a pólvora agora? Não, claro que não, porém o livro contribuiu para que eu pudesse ver com olhos mais sensíveis os absurdos que aconteciam no pensamento e comportamento ditos humanos antes da libertação e, ainda, como os ranços desse sistema permanecem e sãocom licença da má palavra, tão escrotos até os nossos dias. 




Acho muito importante falar sobre isso porque é uma reflexão que nem a escola e seus livros ‘didáticos’ nem as novelas de época nos ajudaram a fazer. Sempre se tratou a escravidão como um erro, um fato histórico lamentável, os mais progressistas davam a visão mercadológica, do interesse econômico sempre por trás de tudo, mas sem ênfase nos horrores cometidos contra o ser humano. E isso é fundamental porque é o que nos faz sentir a revolta, o estômago embrulhado e, portanto, não coadunar mais com qualquer tipo de preconceito. 

Deixo com vocês uma das poesias que fiz ao terminar a leitura.


Um tratado para o fim de toda a escravidão
uma negociata que acabe com as claras hipocrisias
uma aposta que prove que
o homem não é animal
ou que sim, é a loba da lenda
negros seios salvadores
amores incolores
protejam a alma da venda
em qualquer canavial.




6 comentários:

  1. Muito bom! Também estou adorando a leitura!

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  2. Rita De Cassia Magnago, a questão da escravidão é inconcebível para mim, no entanto, ela só foi dourada, o que já é um requinte de crueldade maior. A escravidão hoje é mais ampla, dissiminada e principalmente legitimizada pela sociedade e pelas leis. A escravidao já não está apenas ligada a cor ou ao preconceito dela, mas a economia e ao lucro de poucos. Uma cadeia alimentar tirana e doentia. Certa vez uma professora fez uma comparação pessoal entre mim e outra pessoa sobre o que nos diferenciava, ela disse que essa pessoa comia banana e eu a casca. Foi uma das primeiras lições de filosofia crua e coerente que tive na vida. Segundo alguns alunos, uma das professoras mais destestáveis da Uff (eu não concordo), era uma pessoa dura, mas de um pensamento mais preciso que já conheci. Sabia olhar a situação e dizer é isso. E a verdade do dito dela era tão horrendo, que as pessoas em vez de não gostar da realidade descrita, passavam a odiá-la por ter dito. ainda fico pensaando (porque sabia que não era a última da cadeia alimentar) e para baixo de mim, o que existe? o que comem? Se eu fico com a casca, o que mais resta para comer?

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  3. Que bom que gostou do livro e da escritora. A primeira vez que li Isabel Allende me vi economizando o livro para ele não acabar (La suma de los días). Este livro caiu como um presente em uma época que eu resolvi mudar tudo. Agora compreendo que ler Isabel Allende nos janeiros da vida é um reforço para caminhar neste novo caminho que escolhi para mim.
    No livro que acabei de ler (La casa de los espíritus) a autora fala que os militares mudaram a história, a ideologia e apagaram o que não lhes interessava e assim se deu aqui no Brasil também, inventaram uma história.
    Com relação ao trabalho escravo, é uma lástima que ele ainda aconteça em pleno século XXI, sob outras formas, onde as diferenças de classes são abissais e por um salário para comprar um hidratante melhor as pessoas se submetam a toda espécie de desrespeito a sua capacidade laboral.
    Tem também a prostituição infantil por um prato de comida. Tudo assim, embaixo dos nossos olhos.
    Aos que não têm capacidade nenhuma resta apenas o papel do X9 que é substituído pelo X10 (aquele que descontrói a credibilidade do X9).
    Haverá o tempo que o X14 prevalecerá, o que virá limpar tudo, como faz o produto, que se a gente não tiver cuidado acaba manchando alguma coisa.

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  4. Ritinha, querida, não li "A ilha sob o mar" de Isabel Allende, mas imagino que ela tenha relatado o que acontecia nas galés, onde os condenados eram submetidos a grandes privações e sofrimentos de toda ordem. Homens acorrentados, mal alimentados, obrigados a remar incessantemente para conduzir navios em viagens marítimas, ao comando de um bumbo que era tocado para dar ritmo aos movimentos dos remos,açoitados ao menor sinal de fadiga. Ali se encontravam presos, hereges condenados pela Santa Inquisição (que de santa não tinha nada), escravos; castigo muito conveniente para o poder público da época. São horrores, como você bem falou, que nos embrulham o estômago. E é bom que esses absurdos sejam relatados para que conheçamos a História da Humanidade e sua evolução para melhor, felizmente, muito embora haja ainda hoje resquício desses absurdos cometidos contra a dignidade do ser humano. Muitos seres que cometeram essas atrocidades contraíram dívidas espirituais enormes e durante muitas existências (encarnações) sofreram e ainda sofrem por conta dessas dívidas contraídas em vidas passadas. A justiça do homem pode falhar mas a lei de causa e efeito (a lei divina) não falha. Hoje, quando se comete crimes contra a humanidade, a sociedade repudia, condena esse tipo de comportamento e mostra através da mídia a realidade cruel desses injustiçados, motivando algumas ações de ajuda e solidariedade para minorar tantas injustiças sociais. A humanidade terrena caminha para um mundo de regeneração (onde a maldade será banida e os maus não terão mais lugar para aqui permanecerem nem para aqui reencarnarem). E aí, finalmente, a escravidão, os horrores da Inquisição, das Cruzadas, e outros crimes contra a dignidade humana serão apenas fatos do passado sem mais práticas semelhantes (exploração desrespeitosa do mais forte sobre os mais fraco). Fiz uma "salada mista" de ideias materiais com espirituais, mas tudo é fruto dos meus estudos religiosos atuais, tá? Um beijo grande para você, para a turma do Clube de Leitura e para os demais leitores do seu blog. ...... Angela Ellias.

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  5. Helene e Rose, que bom que partilham da mesma visão sobre a continuidade mal disfarçada da escravidão. A consciência é o primeiro passo para a mudança, não é mesmo?

    Angela, esse livro da Isabel trata mais das atrocidades cometidas pelos senhores de engenho contra seus escravos de lavoura e caseiros, a violação e o estupro das escravas, a repulsa pelos filhos gerados pela escrava, a total falta de respeito e consideração aos direitos dos seres humanos. Choca também o fato do protagonista ter sido defendor de Rousseau e do abolicionismo, isso quando vivia na França e não era afetado pela queda de sua qualidade de vida. Assim que isso acontece, aí o discurso teórico se divorcia definitivamente da prática. Achei isso tão atual, assim como o desrespeito à mulher e aos negros. Evoluímos muito pouco. Você que é bem espiritualizada pode compreender também sob outros aspectos. Eu ainda preciso caminhar mais.

    Obrigada a todos, incluindo Mr. Unknown, pela gentil participação.

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  6. Rita, estou terminando de ler e foi assim como você disse, não dá para largar o livro, é muito bom. Qualquer tipo de escravidão é cruel.

    Abraços!

    Sonia Salim

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